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Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha (Victoria and Abdul – 2017)

rainha a abdul no lago

Existe algo peculiar na existência da família real britânica. Mais famosa que as de outras monarquias, eles estão ligados diretamente com grande parte da história recente de todo o mundo. Principalmente porque o país dominou outros diversos, como a Índia e vários locais da África. Por conta disso, a descoberta em 2001 da amizade entre a famosa rainha Victoria (Judi Dench) com um indiano muçulmano foi tão surpreendente.

Ele, Abdul (Ali Fazal), era um humilde trabalhador que foi escolhido para apresentar uma moeda histórica pessoalmente para a rainha por ser o mais alto do local em que era empregado. Depois de viajar quatro meses, ele acidentalmente conquista a amizade da monarca inglesa. A relação, porém, gera intrigas dentro do palácio de Windsor.

Ninguém melhor para adaptar a história para os cinemas que o diretor inglês Stephen Frears, que revelou com A Rainha que compreende como poucos o valor e as pressões do cargo de ter nascido naquela família. Frears faz um drama histórico com o que o gênero demanda: o melhor da direção de arte.

Victoria entediada
A rainha entediada antes de conhecer o amigo indiano.

Ajuda muito ter a Judi Dench no filme, em qualquer papel que seja. Não necessariamente parecida com a rainha real, a atriz consegue dar para a personagem a austeridade e rigidez pela qual foi conhecida. Ao mesmo tempo, a Victoria dela tem um lado humano e amável escondido sobre a severidade pública, e poucas pessoas conseguem dar um sorriso encantador como Dench.

Essa naturalidade acompanha os cenários palacianos grandiosos, assim como os ambientes reais, como as montanhas da Escócia. É o grande destaque do filme em termos técnicos. As roupas elaboradas da corte, assim como o cuidado em fazer com que os trajes de Abdul não se desloquem da religião dele, reforçam uma sensação de verossimilhança da produção.

Mas a grande força do filme como um todo se encontra na singeleza da relação complicada entre os dois personagens do título. Complicada porque, na Índia, a população muçulmana era a que mais se revoltava contra os ingleses. Então ter a rainha acompanhada de um seguidor da religião não era bem visto. Ainda mais com o racismo típico do período e a diferença de idade dos dois.

corte real contrariada
Intrigas palacianas. Corte real conspira contra a relação dos protagonistas.

À princípio o roteirista Lee Hall (parceiro comum de Frears) usa de comédia para construir a relação. O humor surge de quanto a relação é inusitada para os membros da corte. Por ser inadequado que ela saiba falar algum dialeto indiano, é engraçado ver membros do séquito real enquanto eles descobrem que ela falou algo na língua do país dominado.

Mas, com o tempo, essas reações cômicas dão lugar para a reação lógica, com ameaças e perseguições a Abdul. O que conduz para um fim melodramático e trágico que até comove, mas parece gratuito. E perde muito da eficácia por focar na figura de Victoria contra a corte. Nada contra dar destaque para Judi Dench, mas enquanto ela confronta as intrigas, o confidente indiano some de cena por muito tempo. Quando chega a vez de sentir pena e se identificar com ele, o sentimento fica mais fraco.

Não há nada de novo em Victoria e Abdul. É apenas uma história real que merecia ser contada. E Frears o faz com eficiência, sem buscar pelo diferente. Garante diversão com o humor na primeira metade e envolvimento com a tragédia na segunda. Tem aquela cara de filme comercial “de arte” feito para concorrer ao Oscar. É bonito e não faz feio, mas não se destaca.

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