De vez em quando aparece aquela história real de sobreviventes em algum local distante. Especialmente em alto-mar, que é tão difícil de ser verificado e que é um risco recorrente. A dúvida que fica é sempre igual: há algo de novo a ser dito a cada filme?
De fato, o casal Tami Oldham (Shailene Woodley) e Richard Sharp (Sam Claflin) se perdeu no meio do caminho entre o Taiti e os Estados Unidos em um barco a vela depois de serem pegos por um furacão em 1983. Com poucos ferimentos, ela precisa cuidar dele, com vários ossos quebrados, enquanto usa os restos da embarcação para que sobrevivam à deriva.
Como em todos os filmes do estilo, Vidas à Deriva bate de frente com um problema inicial. Eles sobrevivem ou não? Os roteiristas Aaron Kandell, Jordan Kandell e David Branson Smith buscam a diferença ao dividir a história em duas linhas narrativas. Primeiro do momento em que Tami acorda depois da tempestade e a segunda do dia em que ela chega ao Taiti até a tempestade.
Tami começa em desespero no barco enquanto procura por Richard e a trama muda para o dia em que ela chega no Taiti e o conhece. Quando percebem uma chuva vindoura quando estão à deriva, o enredo paralelo mostra um dia chuvoso na ilha, quando tomaram certa decisão importante.
O recurso serve para dar um ritmo diferente ao filme. Quanto mais o espectador compreende e conhece o amor dos dois, mais eles ficam sem comida e expostos em alto-mar. A isso, o diretor Baltasar Kormákur acrescenta uma montagem esperta, que liga enquadramentos entre as duas histórias. Como em uma mudança inteligente em que usa o céu vermelho para mostrar o conhecimento dos dois sobre navegação e ainda anunciar o furacão.
Kormákur também acerta na filmagem com cenas de planos contínuos. Desde a abertura, quando Tami procura Richard de dentro do veleiro destruído para fora até a câmera subir e mostrar a desolação em alto-mar, não há cortes. A intenção é fazer com que a experiência da personagem pareça mais verossímil e o espectador esteja emocionalmente com ela em cada momento. O que, em um filme de naufrágio, funciona muito bem tanto para construir tensão quanto para criar uma perspectiva subjetiva.
E ter uma protagonista carismática e expressiva como Woodley ajuda muito. A atriz consegue expressar muito com poucas mudanças gestuais. Seja uma mordida no lábio para esconder um sorriso de empolgação antes de ser pedida em casamento, ou uma movida de sobrancelha para registrar alguma surpresa. Ela é econômica, mas corresponde à personagem, que é uma mulher tímida, apesar de aventureira.
Infelizmente, ela tem como apoio o Sam Claflin. O galã não é mal ator, mas é extremamente limitado. E como o personagem dele passa a maior parte do filme com limitações de movimento e de gestos, ele fica ainda mais preso. Os sentimentos estão lá, mas somem diante das capacidades de Woodley de comandar a cena.
Vidas à Deriva reservou boas surpresas. Primeiro por não seguir a cartilha padrão de filmes de sobrevivência, mas também pela boa narrativa, pela história de duas pessoas envolventes além da condição em que estão presas, e pelo fim surpreendente. De verdade, não pesquise como a história real ocorreu antes de ver para não estragar a experiência.