Em 10 anos, muita coisa pode mudar. Para o cinema, em especial, os últimos 10 anos viram tantas mudanças que o término da sessão desta continuação de Zumbilândia chega a chocar. A década entre a comédia original e este filme viu o domínio da Disney na produção cinematográfica comercial e uma adoração repentina a estilos de humor quase anárquicos.
Assim, quando o quarteto Columbus (Jesse Eisenberg), Tallahassee (Woody Harrelson), Wichita (Emma Stone) e Little Rock (Abigail Breslin) é reencontrado pelo espectador, é possível notar como o estilo parece ter sido influente na produção de filmes durante esses dez anos. Agora, com algum nível de rotina no pós-apocalipse, o grupo enfrenta uma possível separação quando as irmãs se sentem sufocadas com o romance exacerbado de Columbus, e pelo exagero paternal de Tallahassee.
À princípio, ecos de coisas como Guardiões da Galáxia e Deadpool ecoam nas cenas, piadas e construções narrativas de Zumbilândia 2. Até que a lembrança bate: o primeiro filme é anterior a tudo isso. E ainda é importante considerar que os roteiristas do original e deste, Rhett Reese e Paul Wernick, são os mesmos que escreveram os filmes do mercenário linguarudo. É uma comédia com tons anárquicos tão fortes que brinca até com o fato de ser um filme, e por isso, com a própria linguagem.
No entanto, ainda é um filme sobre uma união de uma família incomum em situação extrema. O quarteto é feito por estereótipos. Columbus é calculista e metódico, mas desengonçado e sem capacidade social. O que faz com que seja fonte de zombaria de Tallahassee, um caipira que se encontrou com a liberdade da queda da sociedade civil e a permissão para matar humanos transformados em monstros. Ainda assim, ele sabe, mesmo que não admita, que tem afeto e mais chance de sobrevida com o parceiro.
As mulheres, é claro, são um pouco menos trabalhadas. Especialmente porque elas se unem à família porque uma atrai o Columbus e a outra é a irmã grudada nela. E como a construção de personagens é focada em estereótipos, elas claramente se encaixam em perfis femininos. Wichita é a mulher mal agradecida que foge do relacionamento estável, enquanto Little Rock é só uma adolescente chata em busca de drogas.
Mas, como se trata de um filme de comédia absurda, nada disso incomoda um roteiro com bom ritmo e simples. Com direito a conversas com o espectador e textos que saltam pela tela, Zumbilândia não respeita as regras clássicas de cinema. Mas o faz pelo bem da diversão. Já na abertura, os roteiristas e Fleischer fazem uma divertida sequência em que os protagonistas matam alguns zumbis ao som de Master of Puppets, da banda Metallica.
Lembrando que o primeiro abria com For Whom the Bell Tolls, da mesma banda, na mesma estilização.
E assim, já deixa claro que nada é sério. Nem o horror, nem as situações de vidas em perigo. É uma grande piada com direito a doppelgängers dos protagonistas, estereótipos e mortes estilizadas para que a violência não seja chocante. Nessa montanha-russa, porém, o filme não perde foco na alma que realmente prende a atenção do espectador: a família composta pelos personagens principais.
Se a abertura e o ritmo são bem conduzidos por Fleischer, quanto mais a produção se aproxima do clímax, mais parece acelerada. Depois de várias lutas em simulação de plano sequência inspiradíssimas, a cena final parece faltar enquadramentos que ligam ações. O momento em que Tallahassee pula em um guindaste fica desprovido de sentimentos porque não é possível sentir o perigo e a estilização é deixada de lado.
Não arruína uma sessão que rende inúmeras gargalhadas, garante o deleite dos fãs de horror em busca de dilacerações, e ainda consegue envolver graças aos personagens bem escritos. Mas ainda diminui parte da graça. De algo que cresce em direção a um clímax, é incomodamente anticlimático. Felizmente, os realizadores já deixaram claro que têm interesse em fazer um novo Zumbilândia a cada dez anos. Tempo o suficiente para a piada arejar e não parecer velha. E, de fato, foi bom rir de novo dela.