Panfletário. O cinema sempre foi e sempre será. Às vezes da pior forma, com direito a alguma ponta de celebridade com produtos a serem vendidos. Às vezes, para levantar reflexões e ideias políticas. 120 Batimentos por Minuto se encaixa na segunda categoria. Um panfleto político que aproveita um contexto cruel para a comunidade LGBT francesa para discutir preconceito.
No auge do debate sobre a transmissão da AIDS no mundo no fim da década de 1980 e início da de 1990, um grupo francês se organizou inspirado no ACT UP de Nova Iorque para fazer reivindicações no país europeu. Formado, na maioria por gays, lésbicas e bissexuais, a associação tentava levar informações sobre a transmissão da doença para a população ao mesmo tempo em que lutava para que empresas farmacêuticas distribuíssem medicamentos retidos para aumentar o preço final.
O diretor Robin Campillo, junto com o parceiro de roteiro Philippe Mangeot, faz uma narrativa de fora para dentro. No sentido em que a trama começa com atos e ações do grupo, depois passa para as reuniões. Aos poucos, fecha no casal de protagonistas, Sean (Nahuel Pérez Biscayart) e Nathan (Arnaud Valois).
É uma escolha inteligente porque passa do escopo maior, com números e dados, para o menor, com as pessoas que sofrem com a situação. Vê-se um protesto em uma convenção de medicina. Na reunião do grupo, em que as consequências da ação são discutidas, os pontos de vista debatidos são representados por rápidos flashbacks da cena anterior.
O que requer uma filmagem com diversas repetições sob vários ângulos. Um garoto fala na reunião que não entendeu uma deixa de uma colega do grupo e agiu sem pensar. Corta para o flashback do protesto, quando o menino joga um balão de sangue falso em um representante do governo.
Campillo faz isso sem perder a linguagem que assumiu para o filme, com câmera tremida na altura dos personagens. Faz com que a produção pareça documental, com iluminação naturalista. A intenção é que o espectador sinta os eventos como realidade. Por isso mesmo, quando desenvolve para a parte mais intimista, certas cenas parecem mais cruas. Como a primeira transa de Nathan com Sean, ou quando o primeiro precisa cuidar do segundo na fase terminal da doença.
O que conduz para o final focado nas pessoas. Com as tragédias resultantes do descaso da sociedade com minorias. Sean foi alvo da doença, como a maioria dos homossexuais na época, e ficou mais fácil para a sociedade julgá-lo. O que também levou a outros riscos. Como uma cena em que uma garota garante que não vai pegar AIDS por não ser gay, o que indica que ela corria riscos devido à burrice reforçada pela discriminação.
É tudo muito lindo e forte, ainda mais com as interpretações viscerais do elenco. Eles parecem desesperados com a iminência da morte graças à doença e exprimem isso de formas diferentes. Na revolta de Sean, no amor quieto de Nathan, ou até na busca por diálogo do presidente da ACT UP.
Por outro lado, o filme se estende demais nessas tragédias, o que cria uma sensação de melodrama desnecessária depois de um filme que trabalhou tanto a parte naturalista. A corrida das manifestações, dos amores individuais e das festas começa a se misturar para representar vidas que parecem ser vividas em velocidade máxima. Infelizmente, o filme poderia ter aproveitado dessa velocidade para ser mais rápido e mais curto. Ainda assim, ecoa na cabeça do espectador com a força da discussão.
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