A Chloë Moretz está em voga desde que estourou em Kick-Ass, ainda com 12 anos. Entre bons papéis e boas participações em bons filmes, ela tem mostrado interesse em produções que apelam para o público adolescente. A 5ª Onda é a segunda tentativa em uma adaptação de série de livros. Antes ela fez o péssimo Se Eu Ficar, agora é a vez dessa ficção científica pós apocalíptica, que pode ser a primeira de uma trinca.
Uma invasão alienígena começa ao redor do mundo em ondas. A primeira corta a eletricidade, a segunda cria terremotos e maremotos, a terceira é uma doença que extermina quase toda a humanidade e a quarta é a invasão física de corpos. Os extraterrestres conseguem controlar e se infiltrar em corpos humanos. O irmão mais novo da adolescente Cassie Sullivan (Chloë Grace Moretz) foi levado para uma base militar e ela precisa cruzar diversos quilômetros com a ajuda do desconhecido Evan Walker (Alex Roe) para encontrá-lo. Enquanto isso, um antigo flerte dela de escola, Ben Parish (Nick Robinson), é recrutado pelo exército para participar de uma nova frente contra os invasores.
A proposta científica vai levar a qualquer um que esteja prestando atenção para a referência óbvia de Invasores de Corpos (qualquer um dos três filmes). Os humanos são caçados, não podem confiar em ninguém e podem ter as mentes dominadas pelos alienígenas. Mas o filme vai além de ser um suspense sobre paranoia. Na regra dos filmes que seguiram a moda Jogos Vorazes, trata-se de uma trama de ficção-científica, com alguma reflexão típica do gênero, mas existe um destaque maior que o necessário em romances fora de contexto.
Cassie e Evan na floresta. Estereótipos ambulantes.
Eis o principal, mas não único, defeito de A 5ªa Onda. Não há originalidade alguma. É apenas uma releitura preguiçosa de uma ideia clássica dentro da estrutura romântica de Crepúsculo. E nem mesmo essas coisas o roteiro do trio Suzannah Grant, Jeff Pinkner e Akiva Goldsman parece ter interesse de fazer de maneira original. Cassie é uma adolescente padronizada. Não bebe demais nem comete os erros comuns de adolescentes. Tem um paquera, mas não se joga em cima dele e por aí vai. Ela praticamente não tem personalidade, apenas reage aos eventos. Quando conhece Evan, é claro que ele é um jovem de cara quadrada, olhos verdes, barba por fazer e corpo definido. Piora quando se explica a subtrama dele. Ilógica e boba. Ben também não tem personalidade, mas a garota que vem a interagir com ele, conhecida apenas como “Especialista” (Maika Monroe), é a típica menina durona que veio da rua. Quando possuem papel de protagonistas, não têm personalidade. Quando possuem alguma, é um estereótipo mal construído.
Não fosse o bastante, o diretor J Blakeson não parece se importar em dirigir os atores. Principalmente quando eles têm que reagir a um evento que se passa com efeitos digitais. No momento da primeira onda, Cassie testemunha a queda de um avião. A ótima atriz Chloë Moretz não esboça reação. Parece que Blakeson esqueceu de avisar que ela deveria reagir a um acidente violento com a morte de centenas de pessoas. A falta de reação somada a uma péssima animação da computação faz com que a cena pareça falsa. Por mais que o avião nos céus pareça real fisicamente, o movimento dele não condiz com o de uma aeronave em queda.
O design de produção segue uma proposta pobre. A nave alienígena principal é preta, metálica e cheia de pontas em uma estética feita para gerar uma sensação hostil, mas repetida de coisas como Independence Day. Quando os alienígenas dentro das cabeças dos humanos são revelados, eles possuem uma forma que é impossível dentro de uma caixa craniana. E a animação da interação deles com o cérebro é tosca. Nível dos primórdios da computação gráfica, na década de 1990.
A segunda onda devasta Nova Iorque. Design de produção pobre.
A preguiça também se encontra na narrativa. Um voice-over até que bem escrito de Cassie conta mais a história que as imagens e o que acontece na tela. No final do filme, quando atinge o clímax, a ação final é incoerente. Personagens aparecem de lugar nenhum na hora certa e fazem todo um escambau contra os vilões sem explicação. As coisas parecem acontecer de maneira conveniente para que Cassie e Ben realizem os objetivos de cada, que coincidentemente se tornam os mesmos.
Existem duas reflexões interessantes sobre a supervalorização bélica dos Estados Unidos e sobre a frieza humana diante da natureza. As duas passam rasteiras porque o foco do filme é criar vários ganchos para as continuações. Dentre eles, um certo triângulo amoroso. De tão vergonhoso e mal feito, até a história sobre alienígenas da Stephenie Meyers, A Hospedeira, consegue ser melhor. Em grande parte porque os personagens não despertam simpatia e a química entre eles nunca convence.
Blakeson até cria bons momentos de tensão e consegue criar boas analogias ao horror da arregimentação de crianças para a guerra. Infelizmente não sustenta em meio a todos os outros erros. Nem mesmo a Maika Monroe, do ótimo Corrente do Mal, ou o bom Nick Robinson conseguem tirar muito do roteiro fraco.
Talvez o maior mérito de A 5ª Onda seja a risada aberta que surge da sala de cinema quando Cassie apresenta Evan a Ben. Quando isso acontece em uma cabine fechada para jornalistas, é um indicativo de algo está errado. Tem tudo para ser um sucesso. Infelizmente, termina por ser mais como Crepúsculo que como Jogos Vorazes. Infelizmente, a Chloë Moretz errou em mais uma escolha de projeto.
ALLONZ-YYYYYYYYY…