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O Grande Gatsby (2013)

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Adoro assistir adaptações de grandes obras. Principalmente quando não li o material original. Abre espaço para que eu consiga julgar o tema dentro da linguagem que mais gosto e admiro. Ajuda a avaliar a adaptação quando pesquiso o livro depois da exibição. Ao assistir Na Estrada, percebi um conjunto bizarro de inversão de valores. Quando fui atrás do livro, entendi como o Walter Salles não soube passar aquele material para o cinema. Agora foi a vez de O Grande Gatsby.

Nick Carraway é um recém formado de Yale que pretende se tornar escritor. Para isso, vai para Nova Iorque onde convive com a alta sociedade e trabalha como vendedor da bolsa. Acaba sendo envolvido nos conflitos românticos de um casal próximo e de seu novo amigo rico, Jay Gatsby.
O Grande Gatsby possui algumas semelhanças com outra adaptação que se encontra nos cinemas, Bonitinha, Mas Ordinária. Os dois são sobre um homem pobre envolvido por algum período com um grupo de classe alta e sofre um choque terrível com seus padrões de moral. Os dois já tiveram adaptações anteriores para o cinema. E os dois sofrem com problemas sérios de direção.
Não conheço a obra de F. Scott Fitzgerald. Tenho vontade de ler algo dele desde que o vi interpretado pelo maravilhoso Tom Hiddleston em Meia Noite em Paris. Escuto coisas maravilhosas de quem já leu. Mas antes de ir atrás, resolvi assistir primeiro ao novo filme do Baz Luhrmann.
O Grande Gatsby é uma desconstrução da alta sociedade americana. À medida em que Nick mergulha no mundo dos ricos, mais descobre segredos e mentiras. A trama vai construindo para uma tragédia que virá a refletir bem o caráter de cada um daqueles indivíduos.
Para fazer isso, o autor cria um personagem praticamente impossível de existir. Jay Gatsby é o exemplo de moralidade e incorruptibilidade. Tudo o que faz é em nome de um certo bem exacerbado. Ele é uma figura icônica e admirável dentro daquele universo e existe para ser o objeto de afeto tanto do Nick quanto dos espectadores. Sua tragédia pessoal é feita para causar simpatia e eventualmente, revolta.
Para minha alegria, Luhrmann não fez uma adaptação do musical da Broadway. Não sei se é bom ou ruim. Mas musicais tendem a apagar mensagens e contextos acertados de obras em nome da teatralidade absurda. Talvez no mundo de exacerbação de Gatsby faça sentido, mas foi bom ver o diretor se arriscar a fazer algo mais sério.

A Nova Iorque de Gatsby parece um sonho.
A Nova Iorque de Gatsby parece um sonho.

O Grande Gatsby busca retratar o exagero por trás do luxo das classes altas. Para adaptar isso, nada melhor que o diretor que fez um bordel francês parecer um mundo de fantasia multicolorido. Baz Luhrmann acerta ao usar seu estilo para construir uma enorme megalomania. A beleza é deslumbrante no meio do universo de cores, imagens e sensações de Gatsby.
O estilo de Luhrmann faz com que a fotografia deixe tudo brilhando, refletindo como ouro com técnicas bastante expressionistas. A direção de arte deixa as casas suntuosas e gigantescas, as cores dos cenários mais fortes, os atores parecendo modelos de revista da década de 1920. A montagem começa aceleradíssima, mas serve bem àquela construção. O mundo de Gatsby dirigido por Luhrmann é um mundo de fantasia, não é feito para parecer real.
Muito pelo contrário, tudo parece um sonho.
Essa é a grande graça, o filme vai revelando de formas sutis como tudo isso é superficial. É uma máscara para esconder vidas vazias de pessoas preconceituosas e inescrupulosas. Quando todos os subterfúgios caem, revelam-se as personalidades verdadeiras. Caso o livro tente passar essa mensagem, o filme fez uma boa adaptação do contexto.
Da mesma forma que constrói muito bem, a megalomania do diretor atrapalha. Quando chega ao final, parece que a exuberância ainda é mais importante que a história e sua poderosa mensagem. Sem contar que ele usa de voice over para manter o Nick como narrador do filme. É um artifício muito difícil de acertar e este não foi um caso positivo. A voz constante do protagonista serve apenas de objeto de super exposição.
O elenco em um mundo de pomba e brilhos.
O elenco em um mundo de pompa e brilho.

O elenco é extremamente competente. Gosto de ver o Leonardo DiCaprio em um papel mais diferente do seu padrão repetitivo. Aqui, temos a oportunidade de vê-lo mais vulnerável e emotivo. O Tobey Maguire faz um equilíbrio interessante de inocência e raiva em seu Nick. Joel Edgerton, Carey Mulligan e Isla Fisher completam uma equipe eficiente.
Não fossem os exageros de Luhrmann e uma falta de condução mais segura, O Grande Gatsby seria sua obra-prima. Mas assim como em Bonitinha, Mas Ordinária, a história se mantém apenas como a obra-prima de seu autor. Deu vontade de procurar o filme com o Robert Redford ou o próprio livro.
 
FANTASTIC…

3 comentários em “O Grande Gatsby (2013)

  1. Oie!
    Vê lá no Sofá, tem as duas coisas que ficasse com curiosidade! 😉
    http://sofadalu.blogspot.com.br/2013/05/livro-o-grande-gatsby-o-diamante-tao.html
    http://sofadalu.blogspot.com.br/2013/05/o-grande-gatsby-1974.html
    Ah, é maaais ou menos isso o livro. Na verdade é uma super ultra mega crítica da sociedade rica americana e sua futilidade.. a sua auto importância.. é, o que aparenta pelo teu post é que foi bem construído sim o filme… a visão de brilho e sonho é uma repetição da adaptação de 74, mas fiquei super curiosa para assistir este novo, e ainda ver os mais antigos que também foram bem criticados. Tava lendo outro post de outro blog (que já perdi o.O ) e ele comparava os dois filmes e o livro. Nenhum conseguiu ainda se comparar bem ao livro, e o que o autor do blog falava, que concordo em parte, é que é muito difícil pegar uma mega obra literária e traduzir ela pra tela, é melhor às vezes pegar uma obra um pouco mais fraca, porque a construção do filme pode até elevar a peça.. sei lá, como leitora fanática, concordo em partes 😉

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