Blaire, Matt, Adam, Jess, Val e Ken são amigos que se reúnem no Skype para planejar a compra de ingressos para um show. Uma figura misteriosa aparece na conversa. Eles não conseguem desconectá-la. Aos poucos fica claro que o desconhecido é o fantasma da Laura Barns, uma garota que se matou há um ano. Ela parece saber os segredos da cada um deles e ter o poder de fazer mal fisicamente às pessoas.
O filme gira ao redor de uma mecânica básica: a tela do computador da protagonista Blaire. A imagem no cinema é a do Mac da garota, assim como o som do filme é o som que sai da máquina. Essa ideia já foi utilizada antes em séries de TV e em cenas rápidas de filmes, mas nunca como a única mecânica de um longa metragem. Amizade Desfeita deve ser capaz de funcionar, também, como um filme de terror eficiente através da forma como é filmado.
A ideia, por mais interessante que seja, já levanta uma preocupação inicial óbvia. Como um filme desses vai ter ritmo bom e fotografia eficiente? Principalmente quando a maioria das câmeras são das webcams embutidas nos computadores. Curiosamente, é onde se encontram as maiores qualidades desta produção. O roteirista Nelson Greaves e o diretor Levan Gabriadze usam o máximo da disponibilidade visual do computador para contar a história constantemente.
Blaire e o namorado Matt brincam antes do horror.
Greaves sabe manter os eventos da história continuamente em movimento. Quando Blaire se desconecta das conversas no Skype, faz questão de ligar o Spotify e colocar uma trilha de fundo antes de abrir uma conversa privada com o namorado Matt via facebook ou de abrir um vídeo no youtube com informações importantes para a trama. Assim o roteirista passa rapidamente pelo primeiro ato, que apresenta como são as manifestações do fantasma e características de cada personagem para começar a parte de horror.
É quando Gabriadze faz bem seu trabalho. Sem a possibilidade de usar diferentes lentes ou cores de luzes elaboradas para a produção funcionar, o diretor enche a tela de Blaire com detalhes enriquecedores. Enquanto os protagonistas dialogam na tela de vídeo, ela usa o navegador para pesquisar aparições em mídias sociais e eletrônicas. Ao mesmo tempo em que as falas ditas são fundamentais na narrativa, os trechos de texto escondem características importantes. Não vai ser todo espectador que perceberá como Laura vai começar a matar os amiguinhos num detalhe de uma página antes que ela o faça de fato. É sutil, conta a história através do visual sem ser óbvio e explora todas as possibilidades da linguagem.
Para o terror, o roteirista e o diretor criam um jogo psicológico. Todos os personagens têm segredos escondidos relacionados com Laura e uns com os outros. À medida em que a garota morta os expõe, a tensão cresce. Não tem como saber quem vai morrer em seguida ou por qual motivo. Ainda mais quando eles começam a se voltar uns contra os outros. Pequenas maldades que poderiam ser vistas como inocência se acumulam e revelam os podres escondidos em amizades. Quando o filme chega neste ponto, a tensão é quase permanente e constante.
O grupo completo observado sob a presença secreta de Laura.
Existem alguns problemas que decorrem da estratégia dos realizadores. A forma como Laura mata os garotos é visualmente extravagante para ter imagens chocantes. Uma garota com uma chapinha enfiada na garganta ou um menino que enfiou as pás giratórias ligadas do liquidificador na garganta. O que deveria impressionar parece apenas falso porque não condiz com o tom verossímil das interações na tela de computador. É pior ainda porque Gabriadze precisa criar sustos fáceis e previsíveis para cada morte. Da mesma forma, um dos segredos entre os protagonistas gera um diálogo involuntariamente engraçado relacionado a “sexo acidental”.
Os atores são ótimos e carregam a produção. O que é difícil, uma vez que precisam passar de um diálogo comum para o terror através de comunicação online. Ao considerar que são todos desconhecidos e com pouca experiência, é ainda mais impressionante.
O roteiro bem escrito e o bom uso das características narrativas às quais está limitado garantem um bom filme de terror quando o foco é a ambientação e a tensão. Quando precisa recorrer a recursos fracos como sustos e violência explícita derrapa, mas nunca perde o jeito da brincadeira e ainda funciona no final. Vale a pena conferir e descobrir as possibilidades da novidade.
P.S.: Parece estranho, mas assista ao filme em cópias dubladas. A tradução vai além das falas. É uma verdadeira localização do conteúdo mostrado no filme.
FANTASTIC…
1 comentário em “Amizade Desfeita (Unfriended – 2014)”