Tarantino está de volta. Finalmente fazendo um filme de um dos gêneros que ele mais reverenciou em sua obra. Não é apenas um faroeste, é um western spaghetti. Bastardos Inglórios inteiro possui a estrutura de um filme do Sergio Leone, além de takes e comando de cenas. Kill Bill é um filme de wushu com estilo spaghetti. Mas Tarantino não faz um faroeste qualquer, ele faz um com protagonista negro e sobre uma jornada de vingança niilista contra a escravatura.
A história do filme se passa aproximadamente dez anos antes da aprovação da décima terceira emenda dos Estados Unidos. A emenda que tornou a escravatura ilegal. Enquanto em terras mais para o norte do país já haviam planos de abolicionismo, no sul a barbárie continuava.
Nessas terras, o caçador de recompensas Doutor King Shultz compra Django com o objetivo de usar seu conhecimento para obter uma recompensa específica. Shultz deixa claro que não é a favor do sistema escravocrata e admite para Django que o usa apenas para pegar um trio de bandidos e depois libertá-lo. Os dois desenvolvem amizade e partem juntos para libertar a esposa do ex-escravo de uma das fazendas mais assustadoras para os negros, Candyland.
Não é a típica trama de westerns. Mas não é uma trama tão estranha para os spaghettis. Personagem principal busca uma espécie de justiça um tanto distorcida. E o caminho inteiro é uma construção para um clímax triunfante e sanguinolento. E Tarantino é um mestre em fazer filmes nessa estrutura. As cenas vão se construindo em tensão e levam à violência padrão do diretor, estilizada, cômica e absurda.
A construção por si só é interessante. Começa com Schultz educando Django quanto a assassinatos e eventualmente os dois vão trocando de valores. Django vai se tornando tão bom e frio que começa a assustar seu mentor. E à medida que vão mergulhando no mundo de mercado escravagista da fazenda Candyman, o alemão fica vulnerável enquanto o seu parceiro se torna poderoso.
A fotografia é linda, os enquadramentos são lindos e Tarantino demonstra porque é um mestre. Os movimentos de câmera, as construções dos takes. As formas com que os atores se posicionam em cena. É assim que se faz cinema.
O roteiro é muito bem escrito, com diálogos geniais, que constroem os personagens e levam a momentos de suspense com tensão. De repente um toque de humor surge e corta tudo isso, mas no lugar certo.
Jamie Foxx não brilha com seu Django, mas também segura o papel sem problemas. Enquanto isso, Christoph Waltz faz um ótimo Doutor King Schultz, mas não vi motivo para toda a atenção para sua interpretação. Ele está ótimo, mas não é essa atuação digna de Oscar. Por outro lado, Leonardo DiCaprio e Samuel L. Jackson roubam o filme. Eles aparecem em cena e a sessão ganha outra vida. O eterno galã está assustador. É sempre uma ameaça e sustenta um medo constante sempre que está em cena. E Jackson é hilário como um escravo idoso, manipulador e racista.
Acho apenas complicado alguns conceitos. Como o fato de que um dos grandes vilões, senão o maior, seja justamente um negro. Se bem que como o próprio Django define em certo ponto do filme, um mercador negro é o pior vilão possível. Pior que o pior escravocrata branco.
Em certos pontos, Django chega próximo do racismo. Ele se liberta e vai em busca de sua vingança e abandona escravos para trás, seja no meio do deserto ou da desolação. Enquanto Schultz sempre se dá ao trabalho de dar-lhes alforria. Por sinal, a grande cena de triunfo, na minha opinião, ficou por conta do alemão. Ele é quem mais se indigna com o sistema e quem menos consegue lidar com as injustiças feitas. Acredito que é justamente por isso que é mais fácil se identificar com ele que com o protagonista, que parece se importar apenas com a mulher e matar quem o maltratou.
No geral, Django é uma catarse. Raramente é tão prazeroso ver pessoas sendo mortas. Tarantino sabe construir histórias que levam a esses momentos. Segundo de sua trilogia de vingança, Django me deu algo que esperava com ansiosidade, um western spaghetti no cinema.
GERÔNIMOOOOOO…
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