De vez em quando amigos e conhecidos vem me perguntar como eu consigo ver as coisas que percebo ao assistir um filme. Coisas como detalhes técnicos que acrescentam à narrativa. Antes de mais nada, isso vem com a prática, 26 anos assistindo e estudando cinema. Depois vem também de um certo afastamento no momento de se ver um filme.
Esse afastamento se dá quando você simplesmente senta e vai assimilando o que acontece à sua frente e começa a analisar todos os detalhes que surgem. Você deixa de ver uma cena e passa a observá-la. Não é apenas a digestão da informação apresentada, mas ver como ela é feita.
Como não dá para passar tudo em apenas um post, vamos começar com um exercício divertido. Na próxima vez que for assistir a um filme, tente observar os enquadramentos. Depois tente raciocinar como a escolha do enquadramento é útil (ou não) para o que o filme tenta passar.
Para quem não sabe o que é um enquadramento, ou um take ou plano. É o que a moldura da câmera captura. É o que os limites da imagem revelam na tela. É o que o diretor e sua equipe escolhem encaixar dentro de cada imagem.
Tentar descrever todos os aspectos relacionados seria burrice. Existem tratados e textos enormes sobre o tema. Estudos de séculos que relacionam estilos de pinturas a fotografias. Como a luz ilumina, como os ângulos criam profundidade, como o posicionamento dá significado ao que é mostrado. Para não ficar confuso, comece apenas analisando o básico, os tipos clássicos de enquadramentos.
– Plano Grande Conjunto ou Geral: A imagem captura o cenário e estabelece o ambiente onde a ação se dá. O foco dele não é o que acontece, mas onde.
– Plano Conjunto: Também serve para estabelecer ambientação, mas acrescenta a presença do personagem no cenário, ao invés de diminui-lo.
– Plano Americano: Enquadra o personagem dos joelhos para cima. Chama-se assim por ter sido mais utilizado em faroestes antigos.
– Plano Médio ou Meio Plano: Personagem é cortado aproximadamente na cintura.
– Primeiro Plano: Destaque à interpretação do ator.
– Primeiríssimo Plano: Esquece o cenário e dá importância total ao rosto do ator.
Plano Detalhe: Como o nome descreve, cada detalhe conta. Pode ser só uma mão, um movimento de uma sobrancelha ou o que for.
É importante frisar que esses são apenas alguns planos básicos. Existem outros planos importantes, com variações e misturas. Mas apenas pela descrição deles já dá para deixar a ideia de que a forma como cada pequeno enquadramento é usado serve de ferramenta para contar a história.
Também vale lembrar que os nomes em si não são importantes, mas como o enquadramento serve à narrativa. Não lembrar uma palavra não vai fazer muita diferença na hora em que você perceber porque uma escolha do Leone é tão genial.
Espero que o exercício seja frutífero.
GERÔNIMOOOOOOO…
Fantástico post!
Muito obrigado, Allan.