Em 2013 surgiu um desses casos curiosos em que dois filmes com a mesma sinopse aparecem nos cinemas no mesmo período. Aconteceu com Vida de Inseto e FormiguinhaZ, Ed TV e O Show de Truman e eventualmente com o primeiro dessa franquia, Invasão à Casa Branca e O Ataque. Infelizmente, dos dois, o pior fez mais sucesso e rendeu até esta continuação. Resta saber se houve evolução depois de três anos e êxito financeiro.
A história do filme acompanha a diferença de tempo entre os lançamentos. Depois de três anos do ataque que destruiu a Casa Branca, o primeiro ministro da Inglaterra falece e os chefes de estado dos países do G8 viajam para presenciarem o enterro. Assim que se aproximam da reunião, Londres é atacada por terroristas. Um dos poucos sobreviventes, o presidente dos Estados Unidos Benjamin Asher (Aaron Eckhart), precisa confiar no chefe da segurança pessoal dele, Mike Banning (Gerard Butler), para percorrerem as ruas tomadas da cidade enquanto o inimigos tentam capturá-lo para realizar uma execução pública.
O primeiro filme fazia uma mistura de dois subgêneros de ação resultados da década de 1980: o homem vulnerável no local certo e na hora certa criado com o John McLane de Duro de Matar e o soldado indestrutível e dono da força de um exército criado com John Matrix de Comando para Matar e o John Rambo de Rambo II. Sai o herói crível da situação inacreditável e entra o soldado invencível. O resultado foi um filme barato, mal dirigido e estúpido. Mudar a invasão para a capital da Inglaterra não deveria mudar muito as coisas.
A decepção ao assistir a versão londrina da série não é tão grande quanto no anterior porque o primeiro já preparou para a falta de qualidade. Difícil entrar no cinema com algum tipo de animação ao reter na memória o amontoado de erros de Invasão a Casa Branca. Ainda mais com os mesmo roteiristas Creighton Rothenberger e Katrin Benedict acrescidos da ajuda de Christian Gudegast e Chad St. John.
A estrutura narrativa e o discurso se mantêm. Mike é o chefe de segurança do presidente dos Estados Unidos e também é um amigo que treina com ele. A vida privada do agente com a esposa Leah é um degrau para a jornada do personagem. Em uma situação absurda, ele fica preso sozinho com a missão de salvar o chefe de comando do país de terroristas. Sobram frases que exaltam o nacionalismo e o intervencionismo americano.
O filme começa com Mike e Asher em uma corrida matinal para se exercitarem. Mike, o super-humano, se revela superior fisicamente a todo o mundo no péssimo diálogo que força uma ideia de convivência familiar dos dois. A trama sugere que o “herói” quer se aposentar para correr menos riscos e poder ser um bom pai agora que a esposa está grávida. Nada disso importa. Assim que os tais ataques começam, toda e qualquer profundidade é largada de lado para que o brucutu mate terroristas como se fossem folhas de papel. Lá na última cena, o conflito de aposentadoria é retomado com um único propósito: mostrar que o mundo precisa de uma polícia chamada Estados Unidos para proteger a liberdade, a democracia, a paz e o capitalismo. Chega a ser ofensivo de pretensioso.
Não ajuda ter falas estúpidas com funções clichês como: “Este é o evento mais protegido da Terra” para tentar convencer o espectador de um valor superlativo a algo que realmente não é; “Eu me foder? Foda-se você” antes do mocinho matar um terrorista para que ele pareça ainda mais heróico; “Sobreviva. Você tem que ver seu filho. Faça aqueles merdas pagarem” em uma morte melodramática pra fazer com que a vida de Mike valha mais que a dos outros porque ele vai ser pai (não vale) e ainda tenta dar mais justificativa para que os Estados Unidos se vinguem pelo mundo inteiro; “Este homem causou mais mortes que a peste negra” mais um superlativo fora de contexto e, por isso mesmo, bobo. “A única pessoa em quem pode confiar agora sou eu” para exaltar mais ainda o conceito do brucutu americano; E a pior, “estava pensando quando você sairia do armário” depois de um tiroteio para não apenas ter uma piadinha de efeito, mas também ser homofóbico. Porque verdadeiros heróis americanos não podem ser gays.
Nada disso consegue esconder incoerências como o fato de que o único líder de nação que escapa dos ataques é o dos Estados Unidos. Ainda mais depois que os terroristas matam todos os outros com explosões, mas Asher tem que ser em tiroteio. Ou também a impressionante capacidade do vice-presidente (que no filme anterior era o presidente do congresso) de saber mais sobre a defesa e a segurança do país que os secretários dessas áreas.
A montagem é péssima. Em um diálogo antes das explosões e tiros, é possível ver cabeças mudarem de posição entre cortes. Durante a ação, é fácil ficar confuso quanto a localizações de carros e de pessoas. As transições de cena são feitas com imagens de arquivos preguiçosas que em alguns momentos até não dialogam com a fotografia utilizada. Existe um uso de computação gráfica para economizar em efeitos práticos que sempre parece falso, como em feridas que abrem quando alguém leva um tiro ou em pequenas explosões.
Mesmo com tudo isso, Invasão a Londres ainda consegue ser superior ao filme original por conta da mudança de diretores. Sai o sempre fraco Antoine Fuqua e entra o desconhecido Babak Najafi. Este sabe utilizar melhor os sets gigantescos que simulam as ruas da Inglaterra para parecerem mais reais em contraste com os interiores que pareciam de madeira da primeira obra. Também sabe criar suspense na ação. Se antes a invulnerabilidade de Mike Banning impedia o espectador de sofrer medo pela vida dele, Najafi consegue colocar riscos ao redor dele que parecem realmente capazes de matá-lo. Destaque para uma perseguição aérea de helicóptero sobre Londres com manobras contra mísseis e a noção iminente de que o grupo de heróis não vai escapar. A violência é brutal, com direito a um cena na qual Mike esmaga o corpo de um terrorista contra uma parede com um carro. Existem até dois longos planos sequências de tiroteio que deveriam aumentar a tensão do momento, mas são fracos porque nesta cena Mike voltou a ser invulnerável e não há perigo real para ele.
Gerard Butler assume a cada dia mais a vaga preenchida anteriormente por Nicolas Cage de canastrão de luxo de Hollywood. Este é o segundo filme de ação horrível do ator apenas neste ano (alguém ainda lembra de Deuses do Egito?). E ele abraça tanto a bobeira do roteiro que parece tão bobo quanto. O Aaron Eckhart é tão bom ator que até convence dentro de tanta estupidez. Morgan Freeman parece ter sido pago para dois dias de filmagem e aceitou para pagar o aluguel. É triste ver artistas dos calibres da Angela Basset, Radha Mitchell, Colin Salmon, Jackie Earle Haley, Robert Forster e Melissa Leo em um papelão desses. Ainda mais como coadjuvantes de Butler, que só evoluiu a interpretação ao melhor o falso sotaque americano.
Mesmo um desastre pirotécnico, Invasão a Londres é um filme interessante para aquela assistida com os amigos que sabem rir de obras piegas e toscas. Ainda tem duas ou três cenas de ação realmente boas, que podem até aumentar o nível de diversão. Também ganha pontos com a quantidade de risadas que permite dar com a cara de Butler sério com aqueles diálogos.
ALLONS-YYYYYYYYYYYY…
Revisei a trajetória de Babak Najafi e me impressiona que os seus trabalhos tenham tanto êxito, um dos meus preferidos é Proud Mary, Se alguém ainda não viu, eu recomendo amplamente, vocês vão gostar com certeza. É um dos melhores filmes de suspense e açao, e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Taraji P. Henson neste filme, já que pela grande experiência que eles têm no meio da atuação fazem com que os seus trabalhos sejam impecáveis e sempre conseguem transmitir todas as suas emoções. Me manteve tensa todo o momento, cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção, vale muito à pena, é um dos melhores do seu gênero.