Depois de mais de 15 anos, os dinossauros estão de volta. Pelo menos com um grau mínimo de qualidade para as pessoas levarem a sério. Eles deram as caras em produções menores como Viagem ao Centro da Terra e Projeto Dinossauro. Mas apenas nas histórias do Michael Crichton e adaptadas para o cinema pelo Steven Spielberg eles são críveis. E agora eles estão de volta.
A companhia iNGen conseguiu voltar para a Isla Nublar, onde ocorreram os eventos do primeiro filme, e criar um parque dos dinossauros 100% funcional. A gerente administrativa, Claire (Bryce Dallas Howard), recebe os dois sobrinhos por um final de semana. Ela coordena os testes de segurança de uma nova atração, o indominous rex, mistura de DNA de tiranossauro com outras coisas. Para o teste, ela convoca o Owen (Chris Pratt), um antigo romance que supervisiona experiências de inteligência em velociraptors. Mas o indominous escapa e todos os 20.000 visitantes são colocados em perigo.
A situação é complicada para os realizadores. Jurassic Park é uma franquia de sucesso que iniciou como um filme clássico. As duas continuações não mantiveram o nível, mas foram grandes sucessos. A Universal jamais deixaria a bola cair para uma série que rende tanto dinheiro. Mas os nomes por trás, Spielberg e companhia (o que envolve os grandes produtores Frank Marshall e Kathleen Kenedy), querem qualidade. Por isso tanta espera. Era preciso uma discussão científica de qualidade, aventura e um bom diretor. Onde entra Colin Trevorrow
Roteirizado pela dupla que reinventou a franquia Planeta dos Macacos, Rick Jaffa e Amanda Silver, com alguns retoques do diretor e o parceiro Derek Connolly. A trama acompanha a viagem dos dois garotos à ilha. Aos poucos eles encontram e descobrem o mundo dos animais extintos, junto com os espectadores. Quando são apresentados à tia, o filme segue a trama dela para expor como o parque funciona e então passa para Owen quando ele é chamado para verificar a segurança. É uma forma inteligente de fazer o primeiro ato. Conduz o espectador do mundo normal para o mundo do filme com naturalidade. Então começa a aventura.
Owen treina os velociraptors. De arrepiar todos os pelos do corpo.
A franquia como um todo sempre discutiu a relação dos humanos com a natureza. Os argumentos sempre envolvem um convívio respeitoso e não o controle. Além de algumas críticas ao corporativismo (executivos e advogados sempre são alguns dos primeiros a ser devorados). Aqui o debate é o mesmo. O motivo para o parque funcionar é que os criadores aprenderam a conviver em paz com os bichos. Os visitantes são colocados em distância segura e só se aproximam para tratar bem e admirar. O advento do indominous é o cruzamento do limite. E o filme discute com frequência o que ele é. Os dinossauros são animais naturais, o indominous não. Ele é, para todos os propósitos, um monstro. Esse debate leva ao clímax do filme, no qual a natureza funciona de balança para encontrar o próprio equilíbrio.
Trevorrow é esperto. Sabe que ostentar os efeitos especiais na tela desde o começo seria abusivo. Então ele coloca os visuais computadorizados de fundo. Os personagens convivem com eles naturalmente. O mundo parece mais verossímil quando algo que seria impossível é normal dentro dele. Quando os animais se soltam e a correria começa, o verdadeiro show começa. Trevorrow usa do 3D para alongá-los diante da câmera, normalmente com os dentes próximos da tela. Em certa cena, um dinossauro come outro e vemos os dois estendidos pela profundidade. Infelizmente ele não é tão bom na ação quanto o Steven Spielberg, que construía aparições aos poucos e com ângulos engenhosos. Aqui a ação é mais rápida, com muita correria e montes de mortes. Inclusive, uma das mortes mais divertidas e horrendas remete a filmes b, com uma mulher jogada entre bocas. Mesmo assim, Trevorrow nunca perde a noção espacial. O espectador sabe o tempo inteiro o que acontece, com quem e com qual relação entre os personagens. O que ganha ainda mais brilho nas perseguições com os velociraptors.
Michael Giacchino compõe músicas novas para os temas, mas sabe que os protagonistas da série são os dinossauros. Quando eles aparecem, os temas clássicos surgem junto. Ver os dinossauros em toda a glória com a música clássica é de arrepiar. O design de produção é um primor. O parque parece real porque as atrações são detalhadas e diversas. Com muitos objetos que parecem funcionais. A riqueza de detalhes permite perceber o parque ao fundo enquanto personagens dialogam em primeiro plano. Os efeitos especiais são maravilhosos, mas ainda sofrem devido ao espetáculo recente de praticidade de Mad Max. Quando os humanos interagem com animatrônicos misturados com computação, é quando tudo parece mais real. Com destaque para a cena em que Owen abraça um dinossauro enquanto este dá os últimos suspiros.
Pratt e Howard em cena. Protagonistas competentes.
Chris Pratt é o dono da bola atualmente. Tudo o que toca vira ouro. Dono de um carisma inquestionável e muito talento, ele conduz o filme bem como protagonista. A Bryce Dallas Howard (sempre linda) passa por um ciclo pequeno de uma pessoa que vê tudo como dados para alguém que aprende a valorizar a proximidade. Ela nunca é a mocinha em perigo e mais de uma vez salva o parceiro masculino. O elenco de apoio conta com nomes estelares como Irrfan Khan, Vincent D’Onofrio, Omar Sy, Judy Greer e até uma participação hilária do Jimmy Fallon. Todos acrescentam à qualidade da produção com boas interpretações.
Não fosse um humor que, com alguma frequência, parece forçado e alguns poucos diálogos mal escritos, Jurassic World seria comparável ao melhor filme da série. Ainda assim, nada é mais legal que velociraptors. Aqui a relação deles com Owen é de respeito, e não de domesticação, como muitos inferiram dos trailers. Um deles protagoniza o clímax e ganha até tema de herói. Merecidamente. O filme está aí para que as pessoas se apaixonem pelos dinossauros mais uma vez. E o faz com êxito.
Participação na crítica em vídeo do Portal Crítico. [youtube=https://www.youtube.com/watch?v=rxmHZtM0K28]
ALLONS-YYYYYYYYYYY…
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