16º longa da Pixar, O Bom Dinossauro marca uma novidade para a produtora. É a primeira vez que lançam dois filmes em um ano. Como chegou com atraso no Brasil, é o primeiro de 2016 para os brasileiros, mas foi o segundo de 2015 no país de origem. Divertida Mente estreou primeiro. Havia o medo de ele ser mais como os filmes mais fracos do estúdio, como Carros 2. Mas seria ele do padrão do outro lançamento do ano passado?
Em uma realidade paralela, na qual os dinossauros não foram extintos, Arlo é o filho mais novo de uma família que vive do plantio em uma fazenda. O pai dele morre em um desastre natural enquanto os dois caçavam uma criaturinha que roubava o alimento para o inverno. Cheio de ódio, Arlo persegue o bicho, uma criança humana que se comporta como um lobo, até a floresta e é arrastado junto dele pelo rio. Muito distante de casa, ele terá de contar com a ajuda do pequeno humano para voltar pra casa.
A jornada do dinossauro pescoçudo com o menino humano de volta para casa não é apenas uma aventura divertida. Arlo passa pelo ritual de amadurecimento tão comum a filmes de jornadas de crianças. Como filho menos talentoso, ele terá de enfrentar os desafios que o impediam de ser se equiparar aos irmãos para conseguir voltar para a família. Ao mesmo tempo é um filme sobre duas pessoas que precisam formar uma parceria, bem ao estilo que a Pixar tanto gosta de criar (Toy Story, Monstros S.A., Procurando Nemo, Ratatouille, Up, Valente, Divertida Mente).
Arlo com os novos amigos tiranossauros.
Quem pensar um pouco vai notar rapidamente que O Bom Dinossauro possui estrutura e contextos semelhantes aos de Irmão Urso, A Era do Gelo (só o primeiro) e Em Busca do Vale Encantado (também, só o original). Na evolução inventada dos dinossauros sugerida pelo filme, eles chegaram a uma vida semelhante às de faroestes. Arlo e a família são fazendeiros. Mais tarde, quando ele encontra um grupo de dinossauros, eles são muito semelhantes aos cowboys. A animação de corrida deles, inclusive, simula um homem ao galope em cima de um cavalo. É uma pequena inovação em meio às repetições de ideias.
Nem mesmo na transformação de Arlo, o filme consegue ser original. O ódio de Arlo direcionado ao menino que ele eventualmente nomeia como Spot se transforma rapidamente em simpatia. Principalmente quando os dois percebem que ambos perderam pessoas da família e podem compartilhar a tristeza do luto. Surge disso uma das cenas mais belas do filme, mesmo que previsível por ser igual aos outros.
O roteiro da Meg LeFauve, também roteirista de Divertida Mente, é episódico. Cada parte parece um capítulo fechado do todo. O começo na fazenda até Arlo se perder, depois ele e o menino constituem uma amizade enquanto iniciam a jornada, então outra parte com a introdução de vilões, a parte com os tiranossauros, o clímax e a recompensa fecham. Todas são boas individualmente, mas como um todo não criam um ritmo tão bom. Não conduzem o espectador até o final de maneira fluida.
Figura paterna que marca. Fácil ficar emocionado.
O diretor iniciante em longas, Peter Sohn, inicia as cenas com planos detalhes de plantas, pedras, rochas e partes do ambiente com os personagens ao fundo. Sempre com planos longos, que aproveitam do contraste na direção de arte. Os seres vivos têm visuais caricatos enquanto todo o resto é assustadoramente realista. Tudo é digital, a água, a neve, as pedras, a chuva, a lama, mas parece que alguém levou uma câmera para a floresta e filmou em cenários reais. E é realista nos mínimos detalhes. Quando os planos dele estão focados nas menores escalas, parece que se vê uma floresta real até que alguma parte caricata de Arlo apareça.
A influência do estúdio Gibli no estilo da Pixar se nota na forma como eles transmitem emoção. Enquanto os concorrentes possuem cenas emotivas rápidas, a Pixar segue a proposta do Hayao Miyazaki de sentir ao extremo, mesmo que o sentimento seja simples. Existe uma honestidade na cena em que Arlo descobre que Spot é órfão e em como os dois compartilham a dor. Depois novamente quando buscam animar um ao outro. Vai da escolha das alegorias visuais, primeiro um grupo de galhos no chão e depois a descoberta da beleza dos vagalumes. É uma capacidade impressionante de trazer os sentimentos à superfície com imagens e símbolos.
E é onde reside a grande força de O Bom Dinossauro. Mais um na lista de filmes pra chorar da Pixar. Ver Arlo com toda a vulnerabilidade de uma criança perdida lembrar da grande e simpática figura paterna é de partir o coração. Principalmente quando o único apoio que ele consegue encontrar é um ser de outra espécie tão perdido quanto ele. Não é original e a estrutura não é muito boa, mas a ambientação é mais que eficiente para trazer sentimentos à tona.
FANTASTIC…