Quando saiu a notícia de que o próximo filme do diretor Pierre Morel seria com o Sean Penn, todo mundo ficou confuso e curioso. Morel é um dos poucos bons diretores da safra de ação de franceses apadrinhados pelo Luc Besson. Ele fez o sucesso surpresa, Busca Implacável (só o primeiro, que é o bom), onde revelou para o mundo que o Liam Neeson é um herói de ação. Será que o Sean Penn também tem potencial?
Jim Terrier (Penn) é um militar aposentado que trabalha como voluntário em uma ONG no Congo. Ele é atacado por um grupo de mercenários e descobre que o motivo para o ataque é uma missão criminosa da qual fez parte oito anos antes. Para sobreviver, ele precisa encarar alguns fantasmas do passado e lidar com a culpa pelo que fez.
Depois da trilogia Bourne, Besson pirou e começou a emular o estilo das obras de Paul Greengrass e Doug Liman. Daí filmes sobre heróis de ação humanos com algum tipo de problema de saúde com muitas lutas e tiroteios com câmeras que tremem começaram a aparecer na França. Morel aprendeu a lição bem e faz deste O Franco-Atirador um dos que melhor funcionam no estilo desde a série encabeçada pelo Matt Damon.
Há quem diga que um filme de ação não precisa de roteiro. Trata-se de uma tolice. Basta notar que alguns dos grandes filmes de ação são Duro de Matar, Matrix, Máquina Mortífera e a trilogia Bourne. São filmes com sequências de ação muito bem realizadas, que prendem a atenção e divertem, mas possuem roteiros excelentes. O Franco-Atirador tem um texto bom. Não é original ou tem uma grande sacada. Ele é coeso e todas as cenas e diálogos existem com um propósito para o enredo. Não é como diversos filmes de ação que produzem cenas de violência em excesso apenas pela diversão das mesmas. Elas sempre são contextualizadas e iniciam como surpresa para o herói, principalmente quando ele está com alguma desvantagem. O que faz com que exista um perigo maior e um receio do espectador por ele.
Esse cara tem 55 anos. Olha como ele está em forma.
Morel, como diretor, equilibra bem os momentos dramáticos com os de ação. Na melhor parte, cria um triângulo amoroso que complica a situação. Ao invés de fazer isso como um obstáculo aleatório, ele aumenta o suspense e serve de reflexo para o drama de Jim. Como qualquer pessoa que cometeu um grande erro, ele gostaria de evitar pagar por ele. Ao mesmo tempo, a culpa o consome imensamente. O amor pela mulher do triângulo é impedido por isso e a amizade com o outro homem é cheia de suspeitas pelo mesmo motivo. Morel sabe dar destaque para as interpretações dos bons atores com os diálogos bem escritos. O problema maior é quando a trama exige pequenos clichês de filmes de ação. Eles são bem usados, mas geram pequenos momentos bobos, que nunca comprometem, como uma conversa fora de lugar entre Jim e o interesse romântico durante uma perseguição.
Na ação, Morel deixa de lado a câmara tremida para dar destaque para Jim nas lutas e em pequenas desvantagens contra os inimigos. Ele se pega em tiroteio e com a necessidade de proteger dois civis, enquanto os inimigos apenas querem matar todo mundo. Mais tarde ele está em uma luta com uma ferida aberta na barriga e sofre mais com cada golpe. Isso sem que nada fique confuso e o espectador tem compreensão total do que ocorre.
O Sean Penn é um grande ator e tira o máximo do que o roteiro lhe dá. Principalmente quando interage com outros bons atores. É quando o texto brilha mais. O conflito é mais identificável por conta dele. O Javier Bardem aparenta ser um bêbado tresloucado à princípio, mas a interpretação dele é coerente com a culpa e o egoísmo do personagem. Sempre que ele está em cena, o filme fica melhor. O Idris Elba é um ótimo ator e está bem, mas é possível ver que ele deve ter trabalhado por dois ou três dias neste filme. O Ray Winstone parece se divertir com pontas em filmes do estilo. Ainda mais numa cena hilária em que briga com Jim.
Triângulo amoroso com Javier Bardem. O filme melhora com ele em cena.
O Franco-Atirador é um bom filme de ação. O roteiro é coeso, nunca cai em momentos inúteis e carrega um conflito interessante. O diretor dá valor para o drama, apesar de criar boas cenas de violência. O bom elenco acompanha a qualidade. O resultado final é um filme do gênero que não precisa da desculpa de desligar o cérebro para compensar os defeitos.
GERÔNIMOOOOOOOO…
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