Mais um dos grandes clássicos que o Cinemark nos trouxe. Desta vez foi com pompa. O Poderoso Chefão não é apenas o primeiro de uma das trilogias mais clássicas do cinema. Nem apenas um grande filme clássico. É um dos poucos filmes que não vai ganhar resenha negativa de nenhum crítico do mundo. Além disso, é o filme favorito de grande parte desses mesmos críticos. O motivo é bem simples. Ele realmente é tão bom quanto todos dizem.
Michael Corleone (Pacino) é forçado a se reunir com a família criminosa que tanto renegou após um atentado contra o pai, Vito (Brando). Ele recusou tomar parte no tráfico de drogas e, por conta do dinheiro envolvido, as outras famílias da máfia estão dispostas a começar uma guerra.
Após o fracasso de sua produtora com o filme THX-1138, Francis Ford Coppola aceitou o trabalho de adaptar o best-seller do Mario Puzo para a Paramount apenas pelo dinheiro. O livro havia ficado famoso por mostrar como era a rotina da máfia do ponto de vista dos envolvidos, novidade para a época, e por diversos momentos pontuais que marcaram a memória de quem o lia. Com o dinheiro do grande estúdio, Coppola aproveitou para contar a história tal qual ele gostaria. É apenas demonstração de como ele é um bom diretor. Fazendo o filme de aluguel, ele realizou só O Poderoso Chefão. O foco foi para a transformação de Michael de um filho da máfia italiana para o monstro que ele acaba se tornando.
Puzo adaptou o próprio livro para o roteiro. Depois o Coppola mexeu em algumas coisas, garantindo a fidelidade ao material original. Da mesma forma que os momentos pontuais do livro se tornaram marcantes, no filme eles se tornaram cenas espetaculares e clássicas. Apesar das três horas de duração, cada momento é importante para a história e o espectador atento não ficará perdido com cada reviravolta da trama. No casamento que abre o filme, no qual Coppola e Puzo apresentam cada um dos membros do clã Corleone, introduz através do trabalho de Vito ao lidar com diversos pedidos de pessoas ligadas a ele. Depois, ainda na mesma sequência, parte para o ponto de vista de Michael, o único filho biológico com formação profissional e que deu as costas para a família para se alistar no exército no meio da Segunda Guerra Mundial. Enquanto todo mundo da família é envolvido fortemente com o crime, Michael é um grande herói de guerra.
Os homens da família Corleone reunidos no casamento da irmã.
Mas com o pai no hospital, ele não pensa duas vezes antes de cometer um assassinato. É apenas o passo inicial para se tornar ele mesmo o Chefão da família. A cada reviravolta, cada facada pelas costas, cada cena tensa de limpeza de arquivo, Michael se envolve mais com os negócios do pai. E Coppola conta essa transformação como o brilhante contador de histórias que ele é. Seja com a fotografia que começa com tons dourados que remetem às molduras de fotografias de 1940 até o final, onde a película fica mais limpa indicando a passagem de tempo e tirando a imagem nostálgica do controle de Vito.
É proposital, Vito deve parecer um líder simpático e justo para que o comando de Michael mais tarde pareça mais cruel e violento. Coppola escolheu o Marlon Brando para o papel de Vito por este motivo. Por mais que ele mande cortar cabeças de cavalos e espancar estupradores, ele parece bom e caridoso. Não por suas ações, mas pelas escolhas do diretor.
Coppola é tão bom nas composições e construções de cena que cada vez que alguém revê o filme encontra alguma coisa que não havia percebido antes. Seja como as cores das roupas de Michael vão passando dos tons militares para o negro típico dos ternos italianos. Seja como o Luca Brasi é emoldurado por enfeites de peixes antes de ter sua morte anunciada pela frase “Luca Brasi está dormindo entre os peixes”. Sempre há algo novo para descobrir assistindo aos filmes da trilogia.
A interpretação de Brando como Vito é reconhecida por muitos como a melhor da história. E realmente, o ator compõe o personagem através de detalhes cuidadosos. Um pequeno movimento de sobrancelha aqui, uma respirada profunda ali. Cada reação dele é calculada meticulosamente. O Al Pacino retrata o ódio meticuloso de Michael com um olhar constante de desdém para tudo o que acontece. James Caan faz o irmão mais velho, Sonny, com uma raiva vibrante e incontrolável. Robert Duvall é o irmão adotado, Tom Hagen. Ele é o homem agradecido por ter sido acolhido pela família e justamente por isso aceita toda ordem que recebe dos irmãos e dos pais. A Diane Keaton ainda é lembrada como a namorada ingênua de Michael, que eventualmente é escolhida apenas para dar continuidade para a linhagem.
Vale sempre a pena rever O Poderoso Chefão. Principalmente se você tiver o tempo livre para fazê-lo. São três horas recheadas de grandes momentos e de uma história com o tom pessimista típico da reinvenção de Hollywood do período. Michael é um retrato de como o bom mocismo americano não é o que o país sonhava e o filme é um golpe em todos que acreditavam nisso.
FANTASTIC…
2 comentários em “O Poderoso Chefão”