Benjamín Espósito (Ricardo Darín) é um funcionário veterano de promotoria que decide investir na carreira de escritor. Para o primeiro livro, pretende contar a história de um dos primeiros casos em que trabalhou. Para isso, conta com a ajuda da antiga chefe e paixão, Irene (Soledad Villamil), com quem solucionou o crime.
O Segredo dos seu Olhos é uma obra dupla. Quem não conhece a história da Argentina e as lembranças do povo do país acerca da ditadura da década de 1970 perde muito do que o filme realmente é. Ao mesmo tempo em que se trata de um filme sobre investigação criminal e um romance (não se pode mentir acerca disso), também é um filme sobre a melancolia argentina após o governo peronista.
O diretor Juan José Campanella adaptou o livro original junto do escritor Eduardo Sacheri. Existe um esforço para que o filme seja fiel e sem quebra na logística. É uma tarefa complicada com os diversos detalhes da história. O assassinato/estupro por si só já é elaborado. Somado às camadas de analogias e discussões sobre memória que o correlacionam com o amor entre Benjamín e Irene e com a ditadura, é um trabalho a se admirar.
Famosa cena de um take do estádio de futebol marcou a produção.
Trata-se de uma trama cheia de coisas específicas em que todas as cenas são importantes para o desenvolvimento da história e as reflexões propostas. O momento em que Benjamín descobre que outro membro da promotoria prendeu dois suspeitos errados por conta de racismo é importante para a reviravolta final e para demonstrar como as consequências da ditadura foram duras e erradas.
Os diálogos muito bem escritos fazem com que os personagens tenham camadas de informalidades interessantes. Xingam uns aos outros de maneira coloquial e demonstram interesses com pequenos subtextos escondidos nas falas. O roteiro derrapa, porém, na necessidade de tratar de tantos assuntos. Se o foco fosse apenas a analogia e o crime, seria intocável. Como o romance entre os dois protagonistas ganha destaque, ofusca os enredos mais interessantes. Em diversos momentos, o filme parece uma propaganda acerca de um amor romântico que não dialoga bem com o cinismo do resto do enredo.
Antes da produção, Campanella passou uma temporada em Nova Iorque como diretor de 10 episódios da série Law & Order: Special Victims Unit. A experiência permitiu compreender como usar a linguagem a favor da trama criminal, mas Campanella vai ainda além ao escapar do melodrama bizarro da série e adentrar em um terreno mais calmo. Essa quietude, porém, faz com que a tristeza e melancolia sejam mais profundos.
Em um dos momentos mais tensos. Injustiça da ditadura.
Sem contar que, por ser um filme, existe mais tempo para construir uma ambientação. A bela fotografia de Félix Monti somada ao olhar apurado de Campanella geram imagens de grande beleza. Mas esse cuidado estético e visual também faz com que um roteiro que poderia render um filme de duas horas vire uma obra de quase três. Com a parte excessivamente romântica fica lento e cansativo.
Ricardo Darín é uma potência de interpretações. Cada cena conta com um trabalho minimamente bom do ator, que normalmente é genial. Soledad Villamil segura a ponta como interesse amoroso e convence quando deve aparecer como uma força intimidadora sobre ele. O elenco inteiro funciona muito bem.
Talvez fosse útil explicar um pouco mais sobre o contexto histórico do filme dentro do próprio. Infelizmente, Campanella se foca no lirismo e faz com que a obra seja bela. Tanta beleza rendeu o reconhecimento internacional e o Oscar, mas existem problemas com a condução e o entendimento.
FANTASTIC…
Esse filme é excelente!
Ótima sugestão.