Em certo ponto de Os Vingadores – Era de Ultron, o personagem Gavião Arqueiro resume o que é a franquia da Marvel nos cinemas. “A cidade está voando, nós estamos lutando contra um exército de robôs e eu estou usando arco e flecha. Nada faz sentido.” Simples assim, se constata o óbvio. O universo estabelecido nesses filmes é bobo e sem sentido. Saber disso é justamente o que permite a eles serem tão divertidos.
Homem de Ferro (Downey Jr.), Thor (Hemsworth), Capitão América (Evans), Hulk (Ruffalo), Viúva Negra (Johansson) e Gavião Arqueiro (Renner) procuram por bases escondidas da Hidra para reencontrar o cetro de poder usado por Loki na última vez em que precisaram se unir. Quando o recuperam, Tony Stark descobre nele a chave para criar uma inteligência artificial que pode proteger a Terra de ameaças sem que Os Vingadores precisem se unir. Essa inteligência, chamada de Ultron (Spader), se vira contra os humanos e descobre nos gêmeos Wanda (Olsen) e Pietro (Taylor-Johnson) Maximoff o trunfo para derrotar os heróis.
Assim como a maioria dos filmes da Marvel, Os Vingadores é feito para servir de masturbação de hype. A diferença da maioria dos filmes de super-heróis é que o estabelecimento do universo e dos personagens se deu através de tantos filmes e séries que até quem não é fã dos gibis consegue se empolgar e acompanhar.
Joss Whedon, roteirista e diretor do filme, segue seu padrão usual no texto. A longa trajetória como criador de séries de TV (ele fez Buffy, Angel, Firefly e outras obras cults da telinha) o deixou extremamente hábil na hora de equilibrar a estrutura para histórias com muitos personagens. Basta olhar para os filmes Serenity e até o primeiro Os Vingadores para perceber um padrão. Tempo similar de tela para cada protagonista, conflitos individuais e coletivos, um primeiro grande confronto que os desune e deixa em condições ruins e um segundo, no clímax, quando alguém morre (em Serenity era o piloto da nave, em Os Vingadores era o agente Colson) e serve de inspiração para uma ou mais pessoas lutarem. Seguir a fórmula ao pé da letra não é um problema, pois Whedon sabe mudar o conteúdo para que sempre consiga prender a atenção e entreter.
Viúva Negra e Hulk. Uma das melhores coisas do filme.
Um filme feito para ser apenas entretenimento como este precisa saber dosar a ação com humor e criar drama apenas suficiente para que não entedie o espectador e dê razão para que ele se importe com os personagens nas brigas. Na parte divertida, Whedon acerta em cheio. A ação sempre acontece em um contexto em que os objetivos, os perigos e a importância dramática são claros. Na cena de abertura, Os Vingadores invadem uma base da Hidra. Ao mesmo tempo em que cada um tem um momento heroico na sequência, os conflitos individuais são definidos. Seja a interação entre a Viúva Negra e o Hulk, o medo de Stark dos perigos que circundam a Terra, as suspeitas do Capitão sobre Tony ou a vulnerabilidade do Gavião Arqueiro em meio àqueles super seres. O Thor não tem direito a um desenvolvimento de personagem claro, uma vez que seu conflito está relacionado ao futuro filme solo. Interações pontuais fazem com que a amizade dos heróis seja crível e divertida, com um humor bobo e íntimo comum a grupos de amigos.
Na parte dramática é que Whedon derrapa. Começa quando os gêmeos Maximoff expõem as origens melodramáticas, o diretor apenas deixa a câmera em close nos dois para que tagarelem com cara triste sobre a tragédia pessoal. Se o momento e as falas parecem tolas, a péssima trilha de Bryan Tyler e do Danny Elfman com uma desnecessária melodia melodramática mergulha a cena na pieguice total. Isso se repete em quase todas as interações de desenvolvimento de drama. Whedon não sabe dirigir o gênero nem com as câmeras, nem os atores. O que é terrível para o ritmo do filme. Lá pelas tantas, a ação dá uma pausa para que os personagens se reúnam em um refúgio secreto. Segue uma sequência enorme dessas cenas dramáticas. Entre quinze e vinte minutos, o filme apenas perde a fluidez que mantinha para momentos vergonhosos. Com destaque para uma trama paralela sem sentido do Gavião Arqueiro (personagem estúpido em quase todos os conceitos) e uma cena em que Stark se abre para uma participação surpresa que nunca deixa de parecer fora de lugar.
Duas duplas dramáticas, porém, seguram suas partes. Sempre que Mark Ruffalo interage com a Scarlett Johansson ou o Robert Downey Jr com o Chris Evans, a química entre os atores vende o texto pífio de Whedon. Johansson e Ruffalo possuem, inclusive, uma das cenas mais inspiradas do filme, uma referência ao estilo noir. A única parte séria que retém alguma profundidade interessante maior é a trama central de Ultron. Ele e o personagem Visão (Bettany) têm uma pequena cena juntos, mas é brilhante. O filme inteiro valeria apenas por isso, se não fosse o nível de diversão absurda.
Visão. Quase vale o filme inteiro.
Robert Downey Jr., Chris Evans, Chris Hemsworth e a Scarlett Johansson já dominaram os papéis nas múltiplas vezes que os vivenciaram. Mark Ruffalo sempre acrescenta algo à tragédia do cientista gentil e vulnerável que vira um monstro homicida. Como no filme anterior, o Hulk/Bruce Banner é a melhor coisa dentre os heróis. Jeremy Renner é um grande ator, mas nem mesmo ele dá conta da imbecilidade de um arqueiro em meio aos humanos super-poderosos. A trama paralela dele serve apenas para atrapalhar a condução da obra. A franquia funcionaria muito melhor sem a participação de Renner. James Spader lida com o Ultron com elegância e equilibra o ódio do personagem com uma piedade extremamente humana. Aaron Taylor-Johnson aparece pouco, mas marca presença. Quem brilha nos gêmeos mesmo é a Elizabeth Olsen, com um sotaque russo estranhíssimo, mas com uma interpretação poderosa da personagem. Paul Bettany parece estar sempre triste, mas a interpretação dele é coerente. Visão sabe de coisas sobre a humanidade que deixam claro o pesar constante. Não é tristeza, mas pena. Participação brilhante. Além deles, um exército de coadjuvantes de luxo dão as caras. Falar de qualquer um deles é spoiler. Basta dizer então que são participações divertidas e que enriquecem o filme.
Era de Ultron é bom, divertido e bem conduzido. Peca pela extensão. Duas horas e meia criam um pequeno cansaço no final da projeção. E também escorrega na terrível parte do refúgio, em que é mal dirigido, mal escrito e, por vezes, mal interpretado. Feito para se assistir com pipoca e muitos amigos em uma sessão lotada.
FANTASTIC…
3 comentários em “Os Vingadores – Era de Ultron”