Semana passada foi a segunda exibição do projeto Cine UniCEUB, do qual faço parte na organização. O primeiro filme foi O Grande Ditador, desta vez foi Star Wars. Naquele a discussão depois foi sobre ditaduras e discursos de direita e esquerda. Desta vez foi sobre a razão para que certas coisas se tornem populares. Nada mais adequado para o filme que deu o primeiro passo para um mundo de fãs apaixonados.
A história é velha. O sobrinho de um fazendeiro em um planeta distante chamado Luke Skywalker compra, com o tio, dois robôs que possuem carga de vital importância na guerra civil contra o império galático do mal. De repente, esse jovem desconhecido se torna uma das pessoas mais importantes na jornada para salvar uma princesa e destruir uma arma bélica de poder sem precedentes. Como foi apontado por um dos presentes na discussão, não é a trama mais elaborada ou profunda em termos dramáticos.
Em certo ponto do filme, como também foi apontado no evento, um planeta é destruído. Milhões de pessoas se vão junto com ele. As reações dos personagens em cena são rápidas, em parte, porque o filme precisa que a história ande. Em outra parte, porque a maioria deles não possui muitas relações com o mundo explodido. Principalmente, porque é uma aventura com contornos clássicos, e não um drama.
O jornalista e cineasta brasileiro Fábio Barreto disse uma vez que: “De vez em quando a grande história precisa ser recontada para as novas gerações”. Essa história à qual ele se refere é a tal Jornada do Herói. Basicamente, uma estrutura narrativa que se adequa a contos de praticamente todas as culturas humanas de que se tem conhecimento. A explicação para que essa estrutura se repita sempre onde há humanos é uma série de valores básicos que fazem parte do imaginário coletivo. Mesmo no Japão, cuja cultura é tão diferente, essa estrutura pode ser encontrada.
Isso se dá porque nós, humanos, passamos pelos passos da jornada do herói para cada desafio em nossas vidas (com pequenas alterações em cada um deles). Ver esses passos tão bem determinados na história de Luke cria algo muito caro para o cinema: identificação. Afinal de contas, quem não compreende o que é querer sair de casa e deixar de ser um desconhecido sem importância para se tornar um dos aventureiros mais importantes da galáxia?
Essa foi a resposta que eu dei quando o microfone chegou às minhas mãos na discussão. Mas a verdade é que acho que o caso de Star Wars vai um pouco além. Sim, a jornada do herói é forte e Luke é extremamente propício para a identificação do público, mas vários filmes seguem a mesma premissa. A diferença com Star Wars, pelo menos no primeiro filme, é a forma como George Lucas apresentou o universo.
Eu falei e as pessoas ouviram. Ainda estou processando isso.
Inspirado em Os Sete Samurais (que é contado do ponto de vista de dois mendigos), ele constrói o primeiro ato do ponto de vista dos dois robôs. Duas máquinas inteligentes, esquisitinhas e simpáticas que estão presas em um planeta desértico onde há esqueletos de criaturas bizarras e desconhecidas e carros gigantes com traficantes de robôs encapuzados. Ao encontrarem Luke, ele conduz um carro que flutua sem a utilização de rodas. Sem falar que a fazenda onde vive produz de vapor de água. É um mundo que o espectador quer descobrir a cada momento e, de fato, o faz. Isso também vale para o texto. O que é a força? O Darth Vader é algum tipo de robô? Como derrotar aquela coisa gigantesca que destrói planetas?
Mas, provavelmente, o mais fundamental para a valorização do filme é a aventura pulp. George Lucas usou referências a séries de cinema das décadas de 1930 e 1940, em que os mocinhos se metiam em perigos que parecem não ter solução – até chegar a um ápice no qual saem do apuro com uma ação inacreditável. Na minha parte favorita, Luke foge de stormtroopers (soldados do exército dos vilões) com a princesa Leia por um corredor. Os dois encontram uma porta e, depois de atravessá-la, se deparam com um vão. Para impedir que os inimigos os peguem, fecham a porta e atiram na fechadura para evitar que seja reaberta. Agora, com pouco tempo e sem saída, Luke atira uma corda para um ponto acima dos dois e se balança para tentar atravessar o vão. Cria-se um rápido suspense divertido, capaz de prender a atenção do espectador.
São três fatores que funcionam muito bem: A jornada do herói, um universo interessante e curioso e a aventura pulp. Foi o que deu certo também com Indiana Jones. E tem tudo para repetir o sucesso, se J. J. Abrams conseguir garantir a mesma qualidade no novo episódio de Star Wars que ele dirige, a ser lançado este ano.
ALLONS-YYYYYYY…
1 comentário em “Por que Star Wars é tão popular?”