Dois anos atrás, um curta de terror viralizou na internet. Com menos de três minutos, Lights Out dava mais medo e assustava mais que a maioria dos filmes de terror de longa metragem recentes. O motivo era a simplicidade. A enxuta produção conseguia fazer tanto com tão pouco que era um prazer a parte assisti-la. Chegou a hora do criador do curta se provar com a oportunidade de fazer algo com mais de uma hora de duração.
A trama da criatura no escuro é expandida para um drama familiar. Rebecca (Teresa Palmer) leva o meio-irmão mais novo Martin (Gabriel Bateman) para passar uma noite com ela ao descobrir que a mãe Sophie (Maria Bello) parou de tomar os remédios para depressão. Junto com o garoto, um pesadelo de infância de Rebecca reaparece: uma entidade chamada Diana que aparece no escuro e desaparece na luz.
A proposta é bem parecida com a do curta-metragem original, fazer terror com elementos básicos. O primeiro tem pouco mais de dois minutos, duas atrizes, um cenário e nenhuma fala, mas faz algo que falta com frequência no cinema: cenas engenhosas que constroem a ambientação com enquadramentos e boas ideias.
E é justamente o que a versão de 81 minutos entrega. O tempo curto é uma demonstração clara de como o filme funciona. Não é preciso muito para fazer um bom terror (ou um bom filme, diga-se de passagem). Quando as Luzes se Apagam segue o padrão de filmes que dizem muito com pouco. Quatro personagens principais, uma criatura com conceito bem definido e cenas inventivas que não precisam de grande orçamento ou parafernália para divertir.
O roteiro é rápido em explicar o conceito e a história. Não é o mistério do monstro que conduz a narrativa, mas os personagens e o horror. Portanto, nada melhor que ter tudo explicado com menos de 20 minutos de filme. Rapidamente, Rebecca compreende que a criatura, chamada apenas de Diana, aparece apenas no escuro e não pode entrar na luz. O passado do bicho é explicado em arquivos em uma cena enxuta e pronto, está preparado o contexto para se ver os personagens desesperados para acender aquele interruptor ou correr desesperadamente para aquele cantinho iluminado do cômodo.
Mais esperto que entregar a trama de forma prolixa e elegante, é fazer com que o filme não seja sobre o monstro e as pessoas em fuga, mas sobre o drama familiar que os une. Cada um dos personagens tem um conflito bem desenvolvido que conduz para o clímax, quando eles não apenas se resolvem, mas são diretamente envolvidos com as ações da criatura nas sombras.
O diretor, David F. Sandberg, repete o talento em prender a atenção nas cenas de horror. Diana é uma criatura cujo conceito é bastante claro e simples. A cada vez que ela aparece para assombrar alguém aqui ou ali, é feito com alguma sacada esperta em relação a como iluminação artificial funciona. Seja com um letreiro de neon que pisca, com uma queda de energia e, no melhor momento do filme, com os faróis de um carro e a tela de um celular (a cena é tão boa que o cinema inteiro veio abaixo).
Nenhum dos atores têm destaque. Nem mesmo a veterana Maria Bello, mas todos sustentam o padrão de qualidade da fita. Acompanham o valor do roteiro e da direção, que fazem muito com pouco sem pretensão de ser grandioso. Como já foi dito antes no site, existe complexidade na simplicidade, e Quando as Luzes se Apagam é um ótimo exemplo disso.
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