Postado em: Reviews

The Rover – A Caçada

The_Rover_destaque
Ouvir falar que o novo filme da semana se chama The Rover e tem como protagonistas o Guy Pearce e o Robert Pattinson não desperta muita confiança. Um filme desconhecido como este ser lançado no fim do verão americano praticamente sem nenhuma divulgação parece estranho. Mas, como sempre, a melhor coisa a se fazer antes de um filme é assistir sem expectativas.

Em uma Austrália devastada, Eric (Pearce), tem seu carro roubado por um trio armado. Desesperado pelo carro, ele sequestra Rey (Pattinson), irmão de um dos ladrões, e parte com ele através do país. O convívio durante a viagem choca a visão de mundo dos dois, que são tão diferentes, mas que aprendem rapidamente a passar o tempo juntos.
É um road trip pós-apocalíptico de vingança. Essa mistura de gêneros serve para criar as reflexões acerca dos valores humanos. Eric viu o mundo ao ser redor ruir e todos os valores nos quais acreditava falharem quando postos a prova. O resultado é um homem cínico, que não gosta de recorrer à violência, mas que não tem um pingo de receio na hora de realizá-la. Rey, por outro lado, tem algum grau de degeneração mental. Sua mente simplista é forçada a lidar com o ceticismo tanto de Eric, quanto do mundo que o cerca.

The-Rover-5Guy Pearce como Eric. Mundo de sofrimento e violência.

David Michôd, diretor e co-roteirista da produção, não se preocupa em explicar nada. A degradação da Austrália não é contada em nenhum momento, parece que houve alguma espécie de crise econômica grandiosa que acabou com todas as instituições do país. Então sugere-se que os chineses ou coreanos tomaram conta do local com suas empresas. Mas nenhum desses fatos são confirmados em momento algum. E isso não importa. Da mesma forma que não importa saber porquê o bando do irmão de Rey foge tão desesperadamente ou porquê o carro de Eric é tão importante para ele. O importante é apenas a jornada dos dois.
Michôd constrói as cenas mostrando personagens ou objetos isoladamente, então algo os faz reagir. A tomada muda para revelar a causa. É uma construção detalhista e lenta que cria suspense enquanto a ação ocorre. Esta é bem conduzida, colocando tiros súbitos e barulhentos em meio a longos planos. Assusta e dá uma sensação de explicitação. As mortes e a violência são cruas e viscerais. Esse grau de violência serve para demonstrar a dureza de Eric ao participar disso tudo. Também faz com que mesmo a ação não perca o tom intimista do resto da obra.
A fotografia e a arte fazem com que tudo tenha tons sujos e pardos. As pessoas, os cenários e os objetos são sujos e áridos tal qual os desertos da Austrália abandonada. Michôd tem um planejamento eficiente que garante um diálogo entre os planos cuidadosos, o roteiro e a montagem.
O grande problema do filme é sua extensão. Tantas cenas longas, feitas de silêncios e construções intimistas fazem com que o ritmo do filme seja extremamente lento. Nesta lentidão, algumas cenas parecem desnecessárias e deixam o longa mais cansativo.

rover-pattinsonRobert Pattinson como Rey. Trejeitos cuidadosos.

Guy Pearce esbanja o peso de um homem cuja vida é deturpada pela culpa e pelo ódio. Ele cria um Eric distorcido, com um ombro caído e manco. Robert Pattinson surpreende com um sotaque falado com cuidado e um problema em uma das pernas que se reflete até em cenas nas quais Rey está dormindo. Tomara que Pattinson continue com interpretações do estilo e se revele um ator mais expressivo que por aquele papel com o qual ficou famoso.
The Rover é lento e pode cansar. Mas os conflitos dos personagens e a violência funcionam bem em um universo bem construído. Não fosse um pequeno excesso de cenas desnecessárias, talvez fosse um filme mais cômodo. Ainda assim, é uma ótima produção sobre ceticismo.
 
FANTASTIC…

4 comentários em “The Rover – A Caçada

  1. Estou querendo muito ver o filme pois foi bem elogiado em Cannes,e as atuações dos atores tb.
    Só pra informar melhor a pessoa que escreveu essa critica o filme foi sim duvulgado nos EUA,os atores foram aos programas,divulgaram em Cannes,teve sim uma parte de divulgação só aqui no Brasil que não teve muito,por ser um filme mais pequeno,já que o que só interessa é esses filmes de grande orçamento que a maioria deles são uma porcaria.

    1. Valeu, Bianca! Eu sabia que tinha sido exibido em Cannes, mas não sabia que tinha sido elogiado. Não fiquei sabendo da divulgação nos Estados Unidos, mas fico muito feliz de saber disso. Ele merece muito ser visto e no mercado de lá com certeza vai encontrar o seu público. Pena que não existe um seguimento mais barato de salas por aqui para filmes do tipo como existe por lá. Amei seu comentário, espero que continue verificando o blog.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *