Você sabe que vive em tempos estranhos quando, além das centenas de remakes de filmes atuais feitos nos Estados Unidos, argentinos refazem obras francesas e, agora, franceses refilmam uma produção mexicana. Mas o que é realmente bizarro neste caso é que alguém tenha achado uma boa ideia pegar Não Aceitamos Devoluções, um dos piores filmes já feitos, e tentar contar a mesma história de novo.
Como naquele, este filme acompanha um funcionário de um hotel, aqui chamado de Samuel (Omar Sy) em uma praia que aproveita o trabalho para conseguir fazer sexo com o máximo de turistas possível. Até que uma dessas turistas, Kristin (Clémence Poésy), aparece com um bebê que diz ser dele e desaparece. Desesperado, Samuel segue a desconhecida até Londres para retornar a criança, mas fica sem dinheiro e perspectiva de voltar para a França, então aceita um trabalho como dublê de filmes de ação. Sete anos depois Kristin reaparece e vai atrapalhar a vida que ele construiu com a menina, Gloria (Gloria Colston).
A sinopse é longa e elaborada porque Uma Família de Dois, assim como o filme mexicano original, tem a intenção ser uma comédia que faz chorar. E faz isso por meio de melodrama repleto de reviravoltas, que funcionam para que todas as pontas soltas se encaixem em um twist final.
Ironicamente, ser um remake funciona muito a favor da versão francesa, porque Não Aceitamos Devoluções é um filme tão ruim, que o novo até passa impressões positivas. Mas nada é capaz de salvar um roteiro tão cretino. Escrito a 12 mãos, ele é feito de reviravoltas a cada dez ou vinte minutos, que mais parecem episódios de novelas. Numa hora, Kristin volta. Noutra, ela tem um namorado americano. Em outro momento, alguém tem uma condição clínica.
Nada contra novelas, mas essa estrutura não funciona em filmes. Nos últimos trinta minutos, as duas produções obviamente parecem querer forçar o espectador a chorar copiosamente. É gratuito, mal feito, e deixa claro que os realizadores não respeitam a inteligência de quem paga para assistir a arte deles.
Nem mesmo um grande e simpático ator como o Omar Sy, ou a surpreendente Clémence Poésy conseguem sustentar essa produção mambembe. Eles se entregam aos papéis e transmitem com sutileza o que o texto não consegue. Infelizmente, a pobreza da trama arrasta o filme para o chão.
Quando o único mérito de um remake é ser melhor que o original, pouco se salva. Ainda conta contra a produção a presença do amigo de Samuel, Bernie (Antoine Bertrand), como uma caricatura de um gay louco para transar com todo mundo. De longe, uma das piores coisas no cinema atualmente.