Numa estação espacial, seis astronautas têm uma missão importante: coletar material de Marte, procurando por indícios de vida fora da Terra. A missão é um sucesso, o material possui mesmo um organismo unicelular vivo, nomeado Calvin. Passada a euforia inicial, cabe aos heróis acompanhar o desenvolvimento do ser para garantir que ele não será uma ameaça para o planeta.
É claro que Calvin começa a apresentar crescimento além do esperado, e a desenvolver características inimagináveis. E é claro que o cientista a bordo está fascinado com suas habilidades. E é claro que Calvin decide que fará tudo o que for necessário para sobreviver e continuar a se desenvolver. Você já viu esse filme antes.
Vida toma emprestado a velha formula da ficção científica de suspense no espaço. Apresenta um tipo de vida inicialmente inofensivo, que rapidamente percebe sua própria existência, e passa a destruir a tudo e todos ao seu redor para se manter vivo.
O primeiro ato se sustenta com belas imagens da rotina a bordo da estação espacial. Humaniza os astronautas com um pouco de suas respectivas histórias de vida e personalidades distintas, e entrega belas cenas onde o ambiente estéril do interior da estação parece contar parte da história sem usar palavras. A ambientação definitivamente não é um problema.
Mas quando o roteiro, escrito por Rhett Ellison e Paul Wernick (de Deadpool) começa a se desenvolver para adequar as previsíveis baixas no número de heróis, os clichês vão se multiplicando, e vem em mente aquela velha sensação de estar sendo manipulado pela trilha sonora sombria e pela tensão natural das mortes nas mãos de um ser alienígena.
Do segundo ato em diante fica claro que o diretor, Daniel Espinoza, estava pouquíssimo preocupado com qualquer coisa que não fosse manter o clima de angustiante suspense. Ele consegue atingir seu objetivo, até mesmo pela própria natureza do tema, mas dificilmente convence o espectador a se tornar um fã do que criou. E quanto ao roteiro, são tantas as coincidências e mirabolantes explicações colocadas de forma tão casual, que a trama passa de inspirada pelos clássicos do gênero para cópia barata e preguiçosa.
Os personagens vividos por Jake Gyllenhaal, Rebecca Ferguson e companhia, individualmente, são adequados, para dizer o máximo. Por causa da superioridade do primeiro ato com relação ao resto do filme, a performance de Ryan Reynolds se destaca, mesmo que de maneira muito sutil, apenas pela originalidade da abordagem.
É apresentado um filme tenso, de energia alta e, em momentos, até estressante. As coincidências de roteiro, apenas para fazer a história correr, se tornam irritantes, e não justificam a finalidade de cada ação. Com sutil menção ao fato da missão só ter sido possível devido aos esforços conjuntos de Estados Unidos, Rússia e China, a inclusão da atual situação política internacional evidencia, no mínimo, a cansativa necessidade norte americana de reafirmar sua posição de liderança nos programas espaciais dentre todos os outros.
Por que Hollywood insiste na velha fórmula da trilha sonora mais efeitos especiais para justificar a tensão num filme sem originalidade, nunca vamos saber. Como mencionado, você já viu esse filme, e pode ser que nem tenha gostado tanto quando o viu pela primeira vez.
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