Uma das regras do cinema para determinar a qualidade de diretor começam a se destacar é verificar quando eles fazem um filme de assalto. Enquanto alguns dos medíocres fazem coisas péssimas como Ladrão de Diamantes (Brett Ratner) ou Oito Mulheres e um Segredo (Gary Ross). Enquanto grandes realizadores fazem algo como Em Ritmo de Fuga (Edgar Wright) ou Atração Perigosa (Ben Affleck).
Então, quando o diretor Steve McQueen fez com que o quarto filme dele fosse sobre quatro mulheres de bandidos que precisam realizar um assalto depois que os maridos morrem em ação, ele se colocou sob essa análise. Porém, a abordagem dele do subgênero inclui muito mais do que ações e planejamentos.
Isso porque a história de As Viúvas vai além da união de Veronica (Viola Davis), Linda (Michelle Rodriguez), Alice (Elizabeth Debicki) e Belle (Cynthia Erivo) para pagar as dívidas com o mundo do crime. O que McQueen e a parceira de roteiro Gillian Flynn querem é criar uma trama extremamente complexa e cheia de ramos para fazer o espectador pensar.
A começar pelo fato de que as quatro protagonistas são mulheres negras ou imigrantes que enfrentavam, cada uma a seu modo, algum tipo de abuso pessoal. Então os roteiristas fazem com que o assalto que elas organizam passe de uma questão de sobrevivência para empoderamento.
Mas eles também criam tramas secundárias, como a concorrência política entre o vilão Jamall Manning (Brian Tyree Henry) contra Jack Mulligan (Colin Farrell) pelo cargo de vereador de certa área de Chicago. Todas as tramas têm pesos diferentes na busca das mulheres assaltantes e conduzem ao clímax delas. O que já destaca As Viúvas pelo extraordinário roteiro.
Mas McQueen também se comprova como diretor, ao usar as pinceladas que o texto dá na história para fazer o mesmo por meio da linguagem audiovisual. Em certa cena, que já ficou famosa nos círculos onde o filme já passou, Mulligan e a assistente têm um diálogo no carro. A câmera não corta quando os dois entram no carro e acompanha o trajeto do capô, em contraste da imagem do veículo elegante com o bairro pobre.
Outro destaque para o trabalho de McQueen vai para a escolha dos atores e a direção dos mesmos. Entre reconhecidos como Daniel Kaluuya e Viola Davis, ele chama gente como Michelle Rodriguez e Colin Farrell, que as pessoas esquecem que são grandes intérpretes. E todos eles são arrebatadores no que devem fazer para a produção.
Com destaque para Kaluuya, que é um homem ameaçador com os olhares vibrantes e sem bondade. Como este ator usa os olhos em cena é sempre impressionante. A outra boa surpresa é Debicki, que normalmente faz mulheres estoicas, ricas e elegantes, mas demonstra muita vulnerabilidade e força como a imigrante que passou a vida com violência por parte da mãe e de namorados.
Com tanta complexidade e elaboração para um gênero que normalmente envolve linearidade e diversão passageira, McQueen e Flynn conseguem um feito impressionante ao fazer um filme que entretêm e conduz até o fim e ainda tem algo a dizer. Só peca por deixar a história confusa ao ir e voltar entre vários personagens e comentários paralelos.