Assim como o último filme desta coluna, Aurora é um dos grandes filmes do Expressionismo Alemão. Além disso, é considerado por muitos historiadores do cinema como um dos ápices da linguagem cinematográfica muda. Não é de se estranhar. Do diretor F. W. Murnau, que já apareceu na lista com Nosferatu e A Última Gargalhada, trata-se de uma produção cheia de estilos do movimento germânico, mas com um toque mais naturalista.
Na trama, um homem do interior começa um caso com uma estranha da cidade que passa as férias onde ele vive. Tentado a mudar para o centro urbano e viver com a amante, ele leva a esposa para um passeio de barco com a intenção de matá-la. Mas a consciência vai falar mais alto, e ele terá que rever os objetivos.
No original, Aurora tem um subtítulo muito interessante: A Song of Two Humans (algo como Uma Canção de Dois Humanos). A frase remete de forma clara às intenções de Murnau com a obra. É sobre duas pessoas que se amam e redescobrem o amor que sentem um pelo outro.
Hoje em dia, o roteiro de Aurora é extremamente ultrapassado. Desde a representação de uma trama sobre abuso até a vilanização das amantes, ele ainda supera essas questões com a forma como Murnau consegue fazer com que o romance do marido e da esposa seja bonita. O filme é simples assim, com um enredo sobre um amor pueril e inocente, e é retumbante na concepção.
Todos os planos e enquadramentos são belos e seguem a cartilha do expressionismo. Olhares arregalados para mostrar desesperos e angústias, poses exageradas para indicar intenções dos personagens, e takes que aproveitam da profundidade dos cenários grandiosos para retratar a grandiloquência do amor dos personagens.
Eis a grande beleza de Aurora. Ele é simples, mas complexo dentro da forma com a qual se apresenta. Ao mesmo tempo, se aproveita da simplicidade para ser ingênuo e belo. Infelizmente, ressoa antiquado. Veja abaixo, com legenda em português.
https://www.youtube.com/watch?v=jTxzpHkJogY&t=4321s