Desde 1995, quando Toy Story reinventou o mercado de animações cinematográficas como a primeira em computação gráfica, tornou-se cada vez mais difícil ver um desenho animado feito a mão nos cinemas. Infelizmente, este A Princesa e o Sapo será sempre lembrado como o último com a técnica dos estúdios Walt Disney, um dos grandes produtores do estilo. Uma pena porque poderia ser lembrado como muito mais.
Em especial porque é um dos poucos contos de fadas da Disney que se passam em tempos atuais, na Nova Orleans, e é o primeiro com uma princesa negra, a Tiana (Anika Noni Rose). Ela é uma cozinheira habilidosa que sonha em abrir o próprio restaurante e trabalha como garçonete para juntar o dinheiro. Conhece um sapo que diz ser o príncipe Naveen (Bruno Campos) e que precisa de um beijo para voltar a ser humano. Como Tiana não é princesa, o feitiço tem efeito reverso e ela se torna um anfíbio.
A sinopse já revela inúmeras reinvenções neste filme. Desde o fato de que a protagonista não é uma princesa indefesa, passando pela escolha de Nova Orleans em tempos próximos ao furacão que quase destruiu a cidade, até a inversão de expectativas narrativas, como o beijo que resolve todos os problemas.
Tantas inversões, porém, ficam perdidas quando o filme chega ao segundo ato. Se o conflito é muito bem definido e cheio de significados, como Tiana ser uma mulher que cuida de si mesma ou Nova Orleans ser uma cidade estadunidense com grande população negra e com características das culturas religiosas africanas (e ser uma região pantanosa para uma história com sapos ajuda também), parece que os roteiristas não sabiam o que fazer durante a parte de aventura da trama.
Escrito a seis mãos pelos diretores John Musker e Ron Clements (veteranos da Disney que fizeram Aladdin, A Pequena Sereia, Hércules e até o recente Moana) junto com Rob Edwards, o roteiro do filme sabe onde quer chegar, mas não como. É óbvio que Tiana e Naveen terão um romance que vai resolver os problemas de ambos, mas os diálogos dos dois nunca convence que eles são compatíveis.
Ela é focada em trabalhar para conseguir as coisas e ele busca se divertir a todo custo. E o jeito de ambos os irrita mutuamente. Então, como nos romances mais mal escritos, eles resolvem que se amam. Enquanto toda trama no pântano poderia trabalhar isso melhor, o filme se perde entre momentos de humor visual. Comédia por si só não é ruim, é o fato de que a trama está mais focada em ser divertida do que em contar a história que causa problema.
Ainda mais quando o roteiro apresenta personagens coadjuvantes com mais da metade da duração, como o vaga-lume Ray (Jim Cummings), que aparece na produção por menos de meia hora.
Por outro lado, o filme é repleto de qualidades. Além da protagonista inteligente e forte que nunca chega a realmente precisar da ajuda de Naveen, ou dos contextos quase políticos de Nova Orleans, há o vilão Dr. Facilier (Keith David), que é realmente ameaçador por ser um feiticeiro poderoso. Ele conta com uma divertida interação visual com a própria sombra, que é capaz de controlar os inimigos e entretêm ao mesmo tempo.
Também é preciso dar destaque à qualidade técnica do filme. Repleto de elementos computadorizados que criam noção de profundidade às cenas, nunca é possível dizer o que é desenhado a mão ou feito em computador. O resultado é um desenho animado em que as cenas, os cenários e as movimentações parecem reais.
A Princesa e o Sapo é um filme relevante, que já indicava o caminho politizado que as obras da Disney seguiriam nos anos seguintes. Apesar de alguns problemas narrativos, ainda impressiona pela qualidade técnica e pelos temas que se permite discutir.
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