Em um outro post, escrevi sobre literatura de aeroporto. Livros de capítulos pequenos e cheios de ganchos feitos pra deixar o leitor com vontade de continuar lendo sem parar. O conteúdo normalmente é uma história divertida e só. Não vou dizer que Jack Reacher é uma adaptação de um livro do tipo, mas assistindo o filme fiquei com essa impressão.
Jack Reacher – O Último Tiro começa rápido, mostrando um crime, a prisão do culpado, e iniciando logo o mistério. O assassino, ao invés de assinar sua confissão, pede pelo nome Jack Reacher. Em menos de vinte minutos somos apresentados ao personagem, ao mistério e fica a curiosidade com o que está acontecendo.
Reacher cai numa categoria de personagens que eu detesto. São aqueles personagens infalíveis, que se forem maus, é divertido ver como eles vão cometer sua maldades e se forem bons, é divertido ver como eles vão salvar o dia com piadas rápidas enquanto conquistam as mulheres. Podem ser citados Hannibal Lector, James Bond, o tal do Jigsaw de Jogos Mortais e por aí vai.
Reacher tem memória fotográfica, dá tiros impossíveis, vence todas as brigas em que se mete, faz piadinhas rápidas, consegue ver relação entre as pistas que quase ninguém consegue, fala russo e aparentemente sabe tudo.
Gosto de personagens falíveis, corruptíveis e que erram. Esses tipos de personalidades nos fazem torcer por sua moral. Quando eles têm que fazer uma escolha difícil, torcemos para que façam a certa. Reacher nunca passa por isso. Sempre que chega perto de uma dessas situações, a única curiosidade é querer saber como ele vai resolver de forma divertida.
Por sinal, ele falha uma vez ou outra, mas apenas para garantir a diversão da cena. Numa perseguição de carros, ele derrapa, bate, sai da pista, mas só para aumentar o suspense daquela cena rápida. Mais cedo no filme, ele cai numa emboscada. Convenientemente, os bandidos são um bando de trapalhões nessa parte, até que Reacher reage e volta a ser o personagem perfeitinho.
Essas escolha são convenientes para a qualidade das cenas. O que é de certa forma uma qualidade do roteiro. Tudo funciona em seu devido lugar, a estrutura é redondinha e o filme é rápido e divertido. Por conta disso tudo, o suspense e o mistério funcionam perfeitamente. A trama não fica perdida nem enrola com coisas desnecessárias.
A direção é do Christopher McQuarrie. O diretor fez seu debute com o elogiado A Sangue Frio, em 2000. Apesar do apoio da crítica, o filme não fez sucesso e McQuarrie se conteve como roteirista e ficou todo esse tempo sem dirigir. Antes, tinha ganhado o Oscar de melhor roteiro por Os Suspeitos.
Recentemente McQuarrie tem se relacionado com grandes produções e ganhou sua segunda chance como diretor com esse Jack Reacher. E faz um bom trabalho. Não faz os enquadramentos comuns e as cenas ganham com isso. A perseguição de carros é um deleite. A fotografia cria uma ambientação urbana densa, que funciona para o clima quase noir do filme. McQuarrie faz um jogo de sombras para criar suspense em diversas cenas. Ele não mostra um estranho no mesmo lugar que os personagens, mostra sombras rápidas quase imperceptíveis, deixando a dúvida sobre se tem ou não alguém ali.
Em diversas cenas, ficam óbvias as referências a faroestes. Momentos de tensão entre dois personagens antes de uma grande ação, foco em mãos para aumentar o clima.
No mais, Tom Cruise não funciona muito bem como o herói andarilho fora da lei. Mas o elenco de apoio é um primor, tem Richard Jenkins, Rosamund Pike e a surpresa da vez, Werner Herzog. Não imaginava que veria um dos maiores diretores alemães vivos como vilão em um filme do Tom Cruise.
Só pela presença do diretor alemão nota-se a qualidade das referências de McQuarrie e de Cruise.
Existe a possibilidade de McQuarrie vir a dirigir Missão Impossível 5. Fico na torcida.
GERÔNIMOOOOOOOO…
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