Ouvir que um filme chegou à quarta continuação normalmente é indicativo de perda de qualidade. A franquia Missão: Impossível teve os baixos (o segundo filme), mas hoje se sustenta como uma das exceções à regra. Em grande parte por conta do empenho do Tom Cruise em manter qualidade, em parte pelo rumo definido pelo diretor e produtor J. J. Abrams.
Após impedir o suprimento de armas de destruição em massa para uma organização terrorista, Ethan Hunt (Tom Cruise) é sequestrado pela mesma. Ele consegue fugir com a ajuda de uma das terroristas, Isla Faust (Rebecca Ferguson). Enquanto ele se encontrava no encarceramento, a IMF (Impossible Mission Force, agência fictícia da série) foi desfeita pelo congresso e o diretor da CIA, Alan Hunley (Alec Baldwin) passou a caçar Hunt como traidor. Enquanto foge do próprio governo, Hunt busca por Isla para conseguir pegar os chefes do grupo terrorista.
O primeiro Missão: Impossível era um filme de espionagem do Brian de Palma, cheio de suspense e uma trama elaborada e difícil com traições e reviravoltas a rodo. A continuação era focada em levar a franquia para o caminho da ação. Feito isso, era a vez de encontrar um estilo fechado. Abrams manteve a ação grandiosa quando dirigiu o terceiro, mas a trama era um fiapo. O mesmo se deu no quarto com a batuta de Brad Bird. O estilo se manteve, a ação melhorou com o acréscimo de um bem-vindo suspense a mais. O quinto tem o objetivo de manter o estilo recém-descoberto, com ação e suspense.
É preciso dizer imediatamente, Missão: Impossível – Nação Secreta é o único da franquia em que o diretor do filme é o único roteirista. Christopher McQuarrie já havia feito o mesmo no filme que realizou antes, também com Tom Cruise, Jack Reacher. E que roteirista e diretor ele tem se mostrado. Nação Secreta consegue, surpreendentemente, elevar o nível estabelecido por Abrams e Bird. A ação é boa, o suspense é palpável, e o roteiro é um primor.
Cenas de ação bem feitas e adequadas à história.
O filme tem umas sete cenas de ação e infiltração. Todas elas são importantes para o final. E ele é tão auto-consciente disso que o próprio Ethan Hunt fala no clímax “Tudo levou a este momento”. Isso gera duas qualidades notáveis. Primeiro, como todas as cenas conduzem de forma lógica e compreensível para a próxima, a cadência do filme é mais gostosa. Depois, as cenas de ação, bem colocadas ali no meio, com objetivos claros para cada personagem envolvido e boas sacadas de direção, pontuam o que poderia ser uma trama de espionagem densa demais e dá à produção um ritmo bom.
O suspense é criado por este mesmo roteiro na trama de espionagem. À princípio, ele apresenta Isla como uma dúvida. Ela é terrorista, uma agente dupla, tripla? O que leva a diversas situações complicadas dentro das cenas de ação. Ao mesmo tempo em que ela tem os objetivos diferentes de Ethan, alguns são iguais. Ela passa de aliada no meio de uma luta para inimiga. E como ela usa isso é genial. O roteiro cria pequenos clímax emocionais no meio da ação. Um dos melhores é no final de uma perseguição de moto, no qual Ethan não sabe como alcançar uma pessoa que não quer ferir.
McQuarrie não é muito bom na hora de filmar lutas simples. Os ângulos que usa atrapalham a compreensão de vários movimentos. Quando precisa aumentar a escala, ele brilha. A cena de motos parece a perseguição mais rápida da história. O espectador tem a mesma sensação de velocidade de estar nos veículos. Quando existe uma batida, ela fica para trás com uma violência que é chocante. Para escapar do conceito de lutas coreografadas, ele coloca complicações além de um inimigo comum. Numa das melhores, Ethan luta contra um homem maior e mais forte em uma plataforma com pouco espaço que muda de níveis de altura. Os movimentos não são apenas socos e chutes, mas tentativas de não cair ao mesmo tempo em que aguenta os golpes.
Rebecca Ferguson. Potencial para futura estrela.
O Tom Cruise está interpretando Hunt como sempre o fez. Agora ele não é mais a única estrela da série. O Luther do Ving Rhames está de volta, mas ele não parece muito à vontade aqui. William Brandt e Benji Dunn, acrescentados no terceiro e no quarto filme, viraram membros oficiais da franquia. Jeremy Renner está bem, mas não tem muita coisa pra fazer. O Simon Pegg é ótimo, coloca pequenos tiques e falas em momentos que os enriquece. O Alec Baldwin segura bem a seriedade do papel de chefe da CIA.
Os grandes destaques, porém, vão para a atriz Rebecca Ferguson e o vilão, vivido por Sean Harris. Ele parece um estereótipo até a metade da produção, quando fica cada vez mais óbvio que ele e Ethan raciocinam de maneira parecida. Mas as motivações de ambos escalam o conflito para o ódio aberto. Vira um jogo de xadrez em que ambos precisam prever os movimentos do outro. Harris é detalhista ao dar pequenos detalhes ao vilão, que é super controlado, mas esconde um grande ódio por trás do olhar. Rebecca é a grande estrela do filme. Isla não é uma espiã padronizada. Ela tem dramas pessoais complexos, é durona e vulnerável e a simpatia vai além da beleza ou sensualidade. A descoberta da atriz é um triunfo e ela merece uma carreira de sucesso.
Ao fim, Missão: Impossível – Nação Secreta é um filme de espionagem como a franquia não conseguia ser desde o primeiro. Ao mesmo tempo mantém o nível da ação grandiosa sem ser confuso. A combinação dá um ritmo gostoso que faz com que as mais de duas horas de duração passem rápido. Se a franquia guardar a qualidade de roteiro, pode se tornar um nome memorável na história do cinema, além de simples arrasa quarteirões.
GERÔNIMOOOOOO…
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