Durante confronto com a Rainha Bruxa, Kaulder (Vin Diesel) a mata, mas é amaldiçoado com imortalidade. A igreja passa a utilizá-lo como uma arma contra as bruxas através dos séculos até os tempos atuais. Um dos padres destinados a acompanhá-lo nas caçadas, o 36º Dolan (Michael Caine), é morto no dia da aposentadoria. Suspeito, o caçador descobre que o amigo foi morto por bruxas e parte em busca dos culpados com a ajuda do substituto, o 37º Dolan (Elijah Wood) e uma bruxa inocente chamada Chloe (Rose Leslie).
O nome Vin Diesel e a proposta de trama fazem com que O Último Caçador de Bruxas pareça um caça-níqueis barato, muito no estilo dos péssimos filmes que Hollywood lança nos meses de janeiro e fevereiro. Mas ao contrário daquelas produções que buscam violência estilizada em meia a um fiapo de história, este tenta criar uma mitologia curiosa em cima de uma trama de investigação policial. Também busca retratar os sentimentos de um homem de 800 anos que não envelhece.
O filme conta com dois grandes trunfos. Desviar o foco da necessidade de ser ação com efeitos especiais e a construção cuidadosa dos detalhes acerca da mitologia das bruxas. A computação gráfica aqui serve à história, não para cenas mirabolantes e inexpressivas. Os roteiristas Cory Goodman (do péssimo Padre), Matt Sazama e Burk Sharpless (ambos de Drácula: A História Nunca Contada) não cometem os erros dos filmes nos quais trabalharam anteriormente. A história da produção como um todo é coerente, por mais que esqueça de apresentar alguns detalhes que seriam interessantes.
Universo detalhado e rico com bons efeitos geram visuais belos e interessantes.
Trabalha a mitologia das bruxas mais ligadas a elementos da natureza, que precisam recorrer a meios para poder manifestar a magia. Mas não basta apenas detalhar a forma como os poderes se manifestam. As bruxas se dividem em níveis e habilidades. Conseguem criar situações e visuais ricos. Umas caminham nos sonhos de outros. Algumas possuem elementos poderosos dos quais não têm conhecimento. Na cena de introdução aos tempos recentes, ele salva um vôo comercial de uma jovem que não sabe que criou acidentalmente a tempestade pela qual o avião passa. Ela questiona se ele vai matá-la. “Matar você? No momento estou tentando salvar sua vida” ele diz com ironia.
Apesar de um excesso de explicações, como o uso de narração somada a flashbacks e personagens que falam coisas como magia negra pra ninguém, a cena consegue retratar de forma sutil um dos temas mais caros à produção. Apesar de ter como emprego a “caça” às bruxas, Kaulder não faz questão de matá-las. Ele escolheu ter piedade e as deixou se espalhar pelo mundo, mesmo após 800 anos de confronto com as “inimigas”, não consegue deixar de vê-las como seres vivos. Como elas se misturaram aos humanos, agora são mais parecidas e conseguem conviver pacificamente.
O diretor Breck Eisner explora bem os detalhes da mitologia de bruxas para criar um visual rico que enche a tela com alucinações, imagens pesadas e estilosas. Além disso, dá tempo para que as cenas se apresentem aos poucos. Quando ele conhece Chloe, a presença dele é suficiente para esvaziar o bar da garota porque as bruxas o temem. Com a fuga delas, diversos elementos de magia perdem efeito e várias camadas de beleza e ilusão são “desligadas”. É simples, mas eficiente para contar a história e enriquecer o mundo retratado.
Michael Caine e Vin Diesel. Boa química entre a dupla surpreende.
Se o filme possui um defeito, porém, ele reside em diversos contextos da mitologia criada que não são explicados. Seja a origem da Rainha Bruxa ou diversas das características da magia antiga. A superexposição inicial dá espaço no decorrer do filme para que a trama de investigação revele detalhes sem explicações a mais. Kaulder descobre a razão pela qual escondem uma informação dele. O espectador passa a saber quem escondeu quando o personagem age. Não precisa falar nada.
O Vin Diesel está surpreendentemente bem. Ele trabalha com o peso de alguém que perdeu a paciência e carrega o peso da velhice depois do passar dos anos. Colocado em contraste com o Michael Caine, que interpreta um padre idoso, mas que ainda é jovem em comparação a Kaulder, os dois se completam. Realmente parece que Diesel olha para Caine como se olhasse para um garoto e o veterano retorna o olhar com admiração para a figura mais velha. A emoção entre eles é convincente. Elijah Wood tem o pior e mais mal escrito personagem do filme. Ele é dono de uma das reviravoltas do final, que tiram um pouco da graça da produção de tão pobre. E a Rose Leslie está bem como a bruxa jovem que não tem noção total das habilidades. Ganha ainda mais pontos pela personagem não ser reduzida a um par romântico bobo.
Ao término, O Último Caçador de Bruxas se revelou uma surpresa positiva. Talvez a expectativa fosse tão negativa que, mesmo com muitos defeitos e algumas características mais pobres, a impressão final é boa. Em diversos momentos, lembra muitas das grandes qualidades do ótimo filme do Constantine.
FANTASTIC…
1 comentário em “O Último Caçador de Bruxas (The Last Witch Hunter – 2015)”