Com 49 anos de franquia, Planeta dos Macacos parece ter chegado ao ápice com a última trilogia, que começou com A Origem em 2011, teve continuidade com O Confronto em 2014 e agora chega ao fim com este A Guerra. A série é um marco entre os arrasa quarteirões hollywoodianos por ainda se manter consistente com os temas e não se render a tramas voltadas unicamente a ação ou a soluções fáceis de espetáculos.
Preocupado com a chegada do exército humano, que quer matar todos os símios, Caesar (Andy Serkis) planeja uma fuga através de um deserto para salvar todos os seguidores. Antes disso, o coronel (Woody Harrelson) que o persegue consegue fazer uma abordagem ao esconderijo que fará com Ceasar se questione sobre os próprios valores.
Explicar qualquer coisa a mais é dar spoiler de A Guerra. O terceiro capítulo da jornada do chimpanzé Caesar ganha tons messiânicos para dar continuidade à construção do personagem. Além disso, a produção tem uma missão maior, porque é nela que será feita a ponte para o filme original.
Para isso, o diretor Matt Reeves, de O Confronto, retorna tanto para o comando, quanto para o roteiro, junto com Mark Bomback. Reeves é cuidadoso com cada plano que cria para o filme. Para mostrar a preocupação de Caesar no começo, ele faz um ângulo subjetivo do personagem depois de uma batalha, enquanto ele percebe quantos símios foram mortos no conflito. Quando o personagem aparece pela primeira vez, o espectador compreende porque ele está triste e com raiva.
A iluminação também é usada para contar a história, como em uma cena escura em que toda a ação só é vista com tiros de uma metralhadora. É um suspense porque não mostra o que acontece, mas é o suficiente para revelar que os chimpanzés estão preparados para enfrentar os humanos durante uma emboscada.
A música retoma os temas dos dois filmes anteriores, mas inverte as espectativas. As melodias que remetem a tons tribais tocam em cenas em que os humanos são os violentos. Da mesma forma, a trilha com menos ritmos e batidas aparecem quando os símios estão em momentos dramáticos. O que demonstra que os gorilas e chimpanzés já são os mais civilizados.
Em certo ponto, no acampamento dos humanos, o lema deles no filme se encontra repetido para todos os lados: “the beggining and the end” (algo como “o começo e o fim”). Se o espectador prestar atenção, verá que as letras “be the end” (na tradução, “seja o fim”) estão destacadas. A direção de arte na cena mostra como os soldados vivem e se expressam.
Assim, com detalhes ricos em toda a parte técnica, Reeves conta a história, que ainda se sustenta com a mesma força dos filmes anteriores. Caesar busca a paz sem errar com os companheiros da próprias espécie. No primeiro filme era preciso escapar dos humanos, depois foi ele tinha que compreender que existe selvageria em todo mundo. Agora, o medo é de si mesmo. Com ódio cego do coronel, Caesar teme se tornar tão ruim para o povo que lidera como o vilão de O Confronto, Koba (Toby Kebbell, em ponta rápida) foi.
Da mesma forma, o antagonista humano também reflete esses medos internos, uma vez que ele quer a guerra porque busca racionalizar uma perda passada. Ele não é apenas um antagonista, mas um espelho do que o herói pode se tornar. Tudo para manter a discussão central da franquia, os limites da civilização quando somos obrigados a conviver com o diferente, seja ele um animal inteligente, ou o que eles representam, como conflitos devido a preconceito.
Infelizmente, Reeves não está tão inspirado quanto no outro filme. Aqui ele faz menos conexões entre cortes e não se importa em ligar a cena de abertura e a que encerra a produção. Mas abre mão dessas características para chegar ao final, quando finaliza a história de Caesar com tons messiânicos e fecha todas as pontas soltas da trilogia.
Por algum motivo, o comediante Steve Zahn entra para o elenco como um chimpanzé chamado Macaco Mal. Além de o personagem ter pouca razão para existir na trama, ele é acrescentado como um alívio cômico. Apesar de a ideia ser boa e de terem escolhido um bom humorista para o papel, o tom que ele acrescenta não condiz com a seriedade dramática da produção.
Por outro lado, a menina Nova (Amiah Miller), aparece como uma ligação fundamental. Ela apresenta uma reviravolta na história do vírus símio e também acrescenta à discussão, porque ela, subtraída de certas características humanas, se torna mais civilizada que os militares. A personagem, diga-se de passagem, está no filme original de 1968. Assim como um tal de Cornelius que dá as caras em certo ponto.
Exemplo de como Serkis interpreta Caesar nos filmes.
Mas os destaques devem ir para Harrelson e para Serkis. O primeiro consegue dar profundidade para um homem implacável que acredita ser racional, mas está perdido no ódio, enquanto o segundo retoma com maestria o personagem que constrói há seis anos. O texto mantém a transformação de Caesar com coerência, e o olhar de Serkis a expressam. A raiva do personagem aqui é diferente das versões anteriores graças às nuances do ator.
Vale lembrar que se trata de um espetáculo em efeitos especiais. Os macacos e símios são tão fotorrealistas que é fácil esquecer que são feitos em computação gráfica. Ainda assim, com tantos visuais feitos em computadores, é um prazer ver que estúdios grandes estão dispostos a gastar tanto dinheiro com produções voltadas para a história e para os personagens.