Dois anos após finalmente darem continuidade a uma das franquias mais adoradas e lucrativas da história, a segunda parte da nova nova trilogia de Star Wars chega com mais expectativas. Não apenas precisa manter o padrão de qualidade dos filmes originais, mas responder a perguntas que já são repletas de teorias por parte dos fãs apaixonados.
Um dos grandes medos depois do excelente trabalho de construção dos personagens de O Despertar da Força é chegar na continuação obrigatória e os realizadores perderem a mão. Porque se a Rey (Daisy Ridley), o Finn (John Boyega), o Poe Dameron (Oscar Isaac) e o Kylo Ren (Adam Driver) não forem as mesmas pessoas, não importaria o que fosse feito neste O Último Jedi, a produção seria uma decepção.
Mas é exatamente onde Rian Johnson, diretor e roteirista deste, acerta em cheio. Não apenas os personagens continuam os mesmos, como eles são desenvolvidos. E é muito perceptível que todas as cenas e reviravoltas da narrativa existem especificamente para dar continuidade aos ciclos deles nesta trilogia.
Cada um dos protagonistas ganha uma trama paralela. O que remete muito a um problema do Episódio VII. Toda a estrutura daquele era uma cópia do Episódio IV, e muitos temiam que este seria uma cópia de O Império Contra-Ataca, o quinto capítulo da saga. Especialmente porque o fim da produção anterior força o começo deste a ser parecido.
Mas Johnson brinca com essas expectativas. Muito do filme aproveita as rimas visuais conhecidas dos fãs para levar para rumos diferentes. Isso porque esta é uma história de Rey, Finn, Poe Dameron e Kylo Ren. Se antes eles eram apresentados, agora eles crescem para além dos clichês iniciais. O que leva a outra qualidade do enredo: ele quer dizer algo.
Muitos falam sobre como Star Wars é uma franquia sobre pessoas pequenas que se revelam importantes para si e para os outros, mas nenhum filme trata do tema tão bem e claramente quanto este. Ao mesmo tempo em que os protagonistas são desenvolvidos, todos os questionamentos deles remetem a essa filosofia.
Desde a descoberta de Finn sobre uma motivação para lutar, passando pelo aprendizado forçado de Poe de que ser um herói não é apenas derrotar inimigos, até a compreensão de Rey sobre os medos do passado que a impedem de seguir adiante. O que se reflete na trama de Kylo Ren.
Como não pode faltar, sobram cenas de ação com toneladas de efeitos digitais. Aqui muito bem comandadas por Johnson, que surpreendentemente pega muito do estilo das séries pulp que influenciaram George Lucas e Steven Spielberg. Entre as ações, perseguições, lutas e explosões, os personagens têm pequenos momentos de reações que tornam tudo mais divertido além do espetáculo.
Da mesma forma, é obrigatório uma direção de arte rica, que constrói criaturas, cenários e maquiagens alienígenas diferentes e belas. Desde uma criatura que parece uma galinha até uma raposa de cristal, as ideias são base para visuais belos, somados à extraordinária fotografia de Steve Yedlin e a planetas inventivos, como a base rebelde com solo vermelho coberto por sal, e o resultado é um filme de imagens únicas.
Mas Os Últimos Jedi não é um filme perfeito. Na pressa da conclusão, o roteiro fica cheio de pontas soltas. Entre as mais incômodas está a forma como um certo personagem se locomove com uma pessoa ferida mais rápido que veículos que voam. Sem contar que é uma produção longa, com 152 minutos. Apesar de a trama prender com todas as reviravoltas, ele parece ter dois clímax, o que faz com que o segundo pareça extenso demais.
Não é preciso falar que parte do que faz com que os heróis funcionem são os ótimos atores que os interpretam. Ridley compreende uma bondade inerente a Rey que precisa abandonar âncoras passadas para se tornar quem ela precisa ser. Boyega faz uma transição muito elegante de um sobrevivente para alguém que confronta a raiva e o medo para encontrar uma razão para lutar. O Finn do começo de O Último Jedi não é o mesmo do final.
Além deles, há um sempre ótimo Isaacs, que dá para Poe um ar de impulsividade que precisa ser controlada. Enquanto Driver não esconde os conflitos de Ren, que não entende que abandonar as correntes que o impedem de evoluir é estar em paz, e não matar.
Também é preciso dar destaque para outras participações especiais. Laura Dern aparece como uma almirante rígida, compreensiva e de coração forte e bondoso. A atriz enche a personagem de nuances. E Benicio Del Toro se diverte enquanto faz com que o ladrão que interpreta tenha pequenos tiques, como balbuciar sons que rimam com as falas dele, ou uma necessidade de dedilhar superfícies e objetos.
É quase uma surpresa que uma produção consiga cumprir todas as demandas. Indubitavelmente, é um Star Wars, mas também é um bom roteiro que dá continuidade a alguns dos melhores (na verdade, Finn e Rey são os favoritos deste crítico em toda a franquia) personagens da série, propõe uma reflexão, é bem dirigido e bem atuado. Sem contar que é um ótimo filme além disso tudo.
3 comentários em “A Primeira Ordem Contra-Ataca (Star Wars: Episódio VIII – Os Últimos Jedi)”